quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A Magia da Vida


Era uma vez um casal que tinha um filho chamado Zezão.

O menino era forte e sadio, mas não gostava de ir à escola e passava o tempo todo sonhando, só que acordado.

_ Zezão, com o que você está sonhando a uma hora dessas? – perguntava-lhe a professora.

_ Estava pensando no que serei quando crescer – respondia ele.

_ Seja paciente. Você terá muito tempo para pensar nisso – dizia ela.

Mas Zezão tinha dificuldades para apreciar qualquer coisa que estivesse fazendo no momento, e sonhava sempre com a próxima.

No inverno, sonhava com o clima quente da praia, e no verão sonhava com a neve.

Na escola, torcia pelo fim da aula, e em casa, sonhava com a vida fácil lá de fora.

Na cidade sonhava com o campo, e na montanha sonhava com o céu.

Às vezes, deitava-se ao sol, com as mãos sob a cabeça, e fitava o céu através dos galhos das árvores.

Uma tarde quente ouviu alguém chamando pelo seu nome.

Viu uma anciã em pé à sua frente. Ela trazia na mão um relógio de pulso, igual ao de seu avô, do qual pendia um cordão dourado.

_ Olhe o que tenho aqui, Zezão – disse ela, oferecendo-lhe o objeto.

_ O que é isso? – perguntou curioso, tocando o fino cordão dourado.

_ É o cordão da sua vida, é mágico – retrucou a mulher. Não toque nele e o tempo passará normalmente.

Mas se desejar que as coisas boas aconteçam, com o tempo andando mais rápido, basta dar um leve puxão no cordão e as horas passarão em fração de segundo. Mas devo avisá-lo: uma vez que o cordão tenha sido puxado, ele não poderá voltar à posição anterior.

Mas se aceitar o meu presente, não conte esse nosso segredo a ninguém, senão você ficará muito doente e não sobreviverá.

Zezão tomou-lhe das mãos aquele valioso presente, e berrou, demonstrando enorme felicidade.

Era exatamente o que ele queria.

O menino colocou-o no bolso e foi correndo para casa.

No dia seguinte já na escola, Zezão imaginava o que fazer com o seu relógio mágico.

A professora o repreendeu por não se concentrar nos deveres. Zezão então deu um leve puxão no cordão e lá estava ele na frente de sua casa.

Como a vida seria fácil agora! Todos os seus problemas haviam terminado.

Dali em diante, passou a puxar o cordão, um pouquinho todos os dias.

Entretanto, achou que era tolice puxar apenas um pouquinho.

Se desse um puxão bem forte, o período escolar estaria concluído de uma vez.

Naquela noite, deu um grande puxão no cordão e acordou na manhã seguinte, atuando como modelo e manequim na cidade mais importante do mundo.

Zezão adorou sua nova vida, desfilando para os maiores costureiros, aparecendo como garoto propaganda das melhores grifes; enfim estava fazendo o que tanto havia sonhado.

Ele não tinha tempo para mais nada.

Se tinha algo que o incomodava, lá ia ele puxar o cordão, pois não tinha tempo para perder com algumas besteiras que poderiam incomodá-lo.

Já estava rico, famoso e era fisicamente atraente, “o sonho de criança havia sido alcançado”.

Agora o objetivo era o casamento.

Resolveu então puxar com mais força o cordão, até encontrar a mulher mais linda do mundo, pois aquela seria a época mais importante da sua vida.

No dia do casamento, todos estavam felizes, inclusive sua avó materna e seus pais.

Olhando para sua mãe, notou-lhe os cabelos já brancos, e sentiu-se mal por ter puxado tanto aquele cordão.

Alguns meses mais tarde sua esposa anunciou-lhe que esperava um filho.

Mas ele não queria esperar tanto tempo para ver seu filho, e quando ele nasceu, a cada vez que ele adoecia, ou chorava à noite, ele puxava o cordão um pouquinho.

Notou que o cordão estava ficando prateado. Seu cabelo começava a ficar grisalho e seu rosto apresentava rugas.

Sentiu medo.

Teve outros filhos e mantinha o relógio bem escondido, resguardado dos olhos curiosos.

A casa foi ficando pequena, então ele resolveu ampliá-la. E dá-lhe puxão no cordão.

Logo que seus pais faleceram ele percebeu que a vida passara rápido.

Uma noite, sem conseguir dormir, achou que sua vida seria melhor se seus filhos já estivessem crescidos e com carreiras encaminhadas. Deu um forte puxão no cordão e logo todos os seus filhos estavam crescidos e já não moravam mais com ele.

Seu cabelo estava todo branco e as pernas e costas doíam. Sua esposa vivia doente.

Pegou então o relógio com o cordão mágico e levou um susto.

Estava cinza, perdera o brilho.

Decidiu ir à floresta e embaixo de uma árvore decidiu tirar um cochilo.

De repente, ouviu alguém chamando:

_ Zezão, Zezão!

_ Então, a sua vida foi boa? – perguntou a mulher que encontrara anos antes, a mesma que lhe entregara o relógio mágico.

_ Não estou bem certo – disse ele – seu relógio é maravilhoso. Jamais tive que suportar qualquer sofrimento, mas foi tudo muito rápido.

_ Sinto que tudo se passou sem que eu aprendesse direito: nem as coisas boas, nem as ruins. E agora, falta tão pouco tempo! Não ouso mais puxar o cordão, pois isto só anteciparia minha morte. Acho que seu presente não trouxe sorte.

_ Mas que falta de gratidão! Então você queria que tudo fosse diferente?

_ Talvez, se você tivesse me dado um relógio com um cordão que eu pudesse puxar, tanto para acelerar como para voltar o tempo.

A mulher sorriu.

_ Está pedindo muito! Você acha que pode viver a vida mais de uma vez? Bem, ainda posso conceder-lhe um último pedido, seu mal-agradecido. 

_ Pode? – perguntou ele.

_ Escolha o que você quiser – disse ela.

Zezão pensou bastante e disse:

_ Eu gostaria de tornar a viver minha vida, como se fosse a primeira vez, mas sem seu relógio mágico. Assim poderei experimentar as coisas ruins da mesma forma que as boas sem encurtar sua duração, e pelo menos minha vida não passará tão rápido e nem perderá o sentido como um devaneio.

_ Assim seja. Devolva-me o relógio – disse a mulher.

Ela esticou a mão e lhe tirou o presente.

Em seguida, ele se recostou, exausto e fechou os olhos.

Quando acordou, estava na cama. Sua mãe o chamava para a escola.

Ele a segurou pelo pescoço e a beijou ternamente, durante um longo tempo.

Aulus Di Toam


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