quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Sacudindo a árvore das amizades

_ "De vez em quando a gente precisa sacudir a árvore das amizades para caírem as podres" - dizia a professora, dona Joaninha, para nós, jovenzinhos do primeiro ano daquela escola do interior.

Velhos tempos eram aqueles em que nem imaginávamos o que vinha pela nossa frente.

Durante a minha adolescência acabei indo morar longe dos meus pais, por motivo de estudo. E acabei nunca mais voltando para a minha terra natal, a não ser para visitá-los.

Tão logo me vi formado, a minha profissão me forçou a permanecer na cidade grande.

Acabei conhecendo muita gente e passei a conviver, cada vez mais, com novos amigos.

Um dia o velho Marroquino, um sábio que repentinamente apareceu em minha vida, após ouvir atentamente a estória da árvore das amizades, me questionou.

_ E você nunca sacudiu a árvore das suas amizades?

_ Ah, eu sei com quem ando! Deixa isso prá lá!

Eu sei separar o joio do trigo!

Afinal, a minha vida estava muito boa. Tinha emprego e um montão de amigos. Mal tinha tempo para os da família. Festinha prá cá, presentinho prá lá, empresta daqui, toma de cá... E assim a vida ia. Prá que me preocupar com besteiras!

Algum tempo depois acabei perdendo o emprego, a situação da minha nova família já não estava como era antes e, gozado, os meus amigões há tempo que não os via.

_ Bem, deixa isso prá lá - devem ser essas coincidências da vida! - pensava.

Naquele primeiro final de semana, ao encontrar com o velho Marroquino, depois de horas de muita conversa, ele me convenceu: "CHEGOU A HORA DE SACUDIR A ÁRVORE DAS AMIZADES".

_ Você deixou de bancar as festinhas e ainda acha coincidência que os seus amigos não o procuram mais? Você não tem mais nada prá emprestar e ainda acredita neles, não é?

_ Marroquino, tá bem! Vamos fazer uma coisa!

Eu vou falando para você quem são os meus amigos. Vou selecioná-los, tá bem? E você me ajuda na construção da árvore das minhas amizades.

A árvore já tinha terminado quando eu ainda dei uma gozada no Marroquino:

_ Imagina, Marroquino! Fulano, Ciclano e Beltrano são os meus melhores amigos. Você e a professora, dona Joaninha, devem estar me gozando, só pode ser!

_ Marroquino, prá você depois não vir dizer que fiz "malandragem" vou sacudir a árvore de olhos fechados, e aí você me fala quem são os meus melhores amigões.

Tapei os olhos com uma fita e Marroquino me levou para o quintal de sua casa bem debaixo da tal árvore.

_ Pronto, Marroquino, vou sacudir.

_ Pode começar - disse o Marroquino.

Mal comecei a sacudir e Marroquino gritou:

_ Pare! Pode parar!

_ O que aconteceu, Marroquino?

_ Xiiii, só sobrou o teu pai!

Aulus Di Toam

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá. Ficarei muito feliz com seu comentário. Só peço que coloque seu nome para que eu possa responder, caso necessário. Obrigada!