quinta-feira, 15 de março de 2018

2º dia - Presidência Roque Saeñs Pena - Chaco - Argentina

Quinta-feira:
Acordamos cedo. Bem cedo. Mais cedo do que eu costumo acordar para ir trabalhar. Mas para passear ninguém reclama. Eu menos ainda.rsrs
Não tinha nem clareado e todos estavam fazendo os últimos ajustes nas bagagens das motos. Às 6h45min o Everson começou o briefing. Em seguida o Zé tirou uma foto do grupo. 



O Everson pediu para o Zé sair primeiro - do estacionamento - com a van e segurar o trânsito até todas as motos saírem. Feito isso começamos a viagem - sair da cidade. Para podermos acompanhar o grupo eu gravei na memória a cor do capacete e a roupa do Alexandre, que é o último motociclista.
Começou a chegar perto da Alfândega, eu comecei a ficar nervosa. Mesmo sabendo que dessa vez o Zé ia falar para onde realmente estávamos indo.
Na Alfândega funciona assim: Chegando à cabine o Everson desce da moto, tira o capacete, entrega os documentos (passaporte, carta verde e documento da moto) e fala para o atendente que estamos indo para o Deserto do Atacama. Depois dele vão passando um a um. As garupas tem que descer da moto. Todos devem tirar o capacete e entregar os documentos, inclusive das garupas. Após passar a cabine abrem os baús das motos para os agentes federais revistarem. Conforme iam sendo liberados os motociclistas pararam uns metros adiante (em um lugar que não atrapalhava a circulação dos carros) e esperavam, até que o grupo todo se reunir.
Na nossa vez, a agente pediu para o Zé abrir a porta traseira da van e foram para lá. Eu fiquei sentada quietinha. Aliás, acho que nem conseguia me mover, tamanho o nervoso. Não demorou, o Zé entrou e, pelo rádio falou para o Everson que a agente queria ver a nota fiscal dos baús. O Everson que estava lá na frente, falou para o Zé que era para ter falado que eram peças sobressalentes para as motos. Que não eram novas. Só que os baús estavam na caixa. E as peças - canos, parafusos (e sei lá mais o quê) que seria usado para acoplar os baús estavam embalados. E ela encasquetou que eram novas e queria ver a nota fiscal.
Vi o Everson voltando e indo para trás da van. Ficaram ali por um tempo. Depois vi o Everson passando e indo em direção do grupo. Ouvi as portas fechando e o Zé voltou. Ele disse que a agente não queria liberar de jeito nenhum. Mas, com a conversa do Everson e outro agente mandando liberar, ela acabou liberando. Muito brava, segundo o Zé, mas liberou.
O Zé encostou a van atrás do grupo. O Everson chegou, subiu na moto e o grupo começou a sair.  Nisso eu me lembrei de uma mensagem que o Everson mandou ontem para o Zé que dizia: Temos que pegar uma encomenda na recepção do hotel, para levar para a dona do hotel de San Pedro de Atacama.  Então perguntei para o Zé se ele tinha pegado a tal encomenda. Ele disse que não e passou o rádio para o Everson perguntando se ele pegou. O Everson disse que não, e devolveu a pergunta para o Zé:_Mas você não pegou? Resultado: O Everson mandou a gente voltar ao hotel para pegar. E orientou o Zé desembalar as peças (que a agente tinha implicado). Eu simplesmente apavorei. Não acreditei que ia ter que passar novamente pela Alfândega. E agora sem o Everson, pois, ele mandou a gente voltar e seguiu com o grupo.
Voltamos... Eu nem queria falar muito. O Zé dizendo que a culpa não era dele de ter esquecido. Que o Everson tinha ido deixar coisas na van várias vezes, então o Zé achou que ele podia ter pegado. Dos males o menor. Pelo menos lembramos. Pior seria chegar em San Pedro sem as encomendas.  Isso porque dentro da van tem pacotes de café e pão de queijo que o Everson leva para essa mulher.  
O Zé parou a van na frente do hotel e foi buscar as encomendas, Eu fiquei esperando dentro da van. Então o Zé entrou e comentou que eram duas caixas e dois baldes (transparentes) com rosquinhas (provavelmente caseiras). Isso porque não pode entrar com nada que não seja industrializado na Argentina e no Chile. Eu quis ir olhar. Vi que o Zé tinha colocado logo que abre a porta, então falei para colocar no fundo, ao lado das caixas com o café e o pão de queijo. Seguimos...
Quando estávamos nos aproximando da Alfândega, o dilema. Entramos na mesma fila, para passar com a mesma agente? Ou vamos para outra fila? Se entrarmos em outra fila e ela nos ver, pode achar estranho e querer saber por que voltamos, e poderia supor que passamos em outra fila para escapar dela. Se passarmos com ela novamente ela pode, dessa vez não deixar passar as caixas - com os baús dentro. Eu falei para o Zé. Vamos entregar nas mãos de Deus! Que ele nos conduza. E entramos na fila menor. Eu nem olhava para os lados. Meus olhos iam denunciar meu nervoso. Fiquei ali rezando.
Era um agente. O Zé desceu e ouvi abrindo as portas traseiras e depois a lateral. Minutos depois ouvi fechando as portas. O Zé entrou, ligou a van e saímos dali mais que depressa. Então ele falou: _Você viu o tamanho do cachorro? Eu disse que não! Mal sabia ele que eu nem me mexi dentro da van. A nossa sorte foi que a revista foi com cão farejador. O Zé abriu as portas e ele entrou na van atrás e na parte atrás de mim. Por isso foi rapidinho e não implicaram com tudo o que tinha dentro da van.
O Zé tentou mandar mensagem para o Everson dizendo que tínhamos passado e não tinha mais sinal. Quando pegamos a estrada, começou a chuva. Que foi aumentando. Aumentando. Tinha pontos que mal dava para enxergar. A gente de olho para ver se não tinha moto parada. Eu ficava pensando nos motociclistas. Nas garupas. Se eu estava tensa dentro da van, imaginem elas na moto. Pensei também que como van de apoio, na hora que elas estavam precisando de nós, estávamos muito longe. Porque com certeza alguma delas ia querer vir na van.
O Zé tem um roteiro com os postos que eles param para abastecer. Geralmente entre 150 a 200 quilômetros. No primeiro posto o frentista falou que o grupo tinha saído fazia (+/-) 20 minutos. Eu estava preocupada porque na segunda parada tinha uma encomenda - que estava na van - que alguém ia pegar. Ou seja, a gente tinha que encontrar o grupo na segunda parada.
Chegamos praticamente com eles. Percebi que estavam todos tensos. A mulherada mais ainda. E muitas estavam molhadas. Compreensível. Eu estava envergonhada por não estar por perto no momento que elas precisaram.
Almoçamos ali. A comida estava horrível. Eu peguei um pouco de arroz frio e purê de batata. Na verdade nem queria comer. Minha cabeça estava doendo, tamanha a tensão das últimas horas.
Quanto a paisagem, o Zé já tinha avisado que nesse primeiro trecho/dia não tinha atrativo nenhum. Que a região é bastante pobre. Que nos postos, os banheiros não são dos melhores. Até a segunda parada não deu para ver muita coisa porque a chuva não permitiu. Depois o tempo melhorou, e foi bom porque deu para apreciar a ponte na Província de Corrientes. Não só ela, como a prainha embaixo. O rio Paraná.



Fora a chuva, nada aconteceu com as motos. O Zé disse que o Everson procura sempre chegar antes das 17h nas cidades. Isso porque na Argentina é tradição o comércio fechar às 13h e reabrir às 17h. Devido a chuva, o Everson teve que reduzir um pouco a velocidade. Para o Zé ele falou que reduziu para dar tempo de nós alcançarmos o grupo. Saber disso só serviu para deixar a gente (pelo menos eu) com sentimento de culpa. Enfim, essa redução na velocidade fez com que chegássemos em Roque Saeñs Pena muito depois das 17h. Na verdade passava das 19h. Estava começando a escurecer. Pegamos um trânsito muito doido. Sabe aqueles vídeos que a gente vê do transito na Índia? Parecido.  Muitos carros (velhos), motos, bicicletas e pessoas.  Uma bagunça. Muito barulho.  Pelo menos no trecho que percorremos, achei a cidade mal cuidada. Parece bem pobre. Essa foi a minha impressão.
Mas ainda bem que não circulamos muito dentro da cidade para chegar no hotel. Se eu não via a hora de tomar um banho e relaxar, imagine o pessoal da moto.
O Zé parou a van na rua, em frente ao hotel. Até tirarmos as malas, máquina fotográfica, rádios, quando chegamos na recepção o Everson já tinha entregado a chave do quarto de todos. Pegamos a nossa e fomos para o quarto. Tomamos um banho e já descemos.
Estamos hospedados no Hotel Atrium Gualok, quarto 519. A recepção é muito luxuosa. Aliás, todo o hotel é um luxo! Se bem que ouvi uns dois do grupo reclamando.
Vi a piscina. O bar. O salão que fica ao lado da recepção. O hotel é bem grande. Mas eu nem queria andar muito. Queria comer. Então fomos ao restaurante do hotel.





O pessoal já estava lá. Eu e o Zé sentamos em uma mesa, sozinhos, em um cantinho. Eu pedi lasanha. Que estava muito saborosa. Os pãezinhos que eles serviram antes, além de quentinhos, estavam deliciosos.  Pensei em tomar vinho. Experimentei três tipos, mas não gostei de nenhum. Então bebemos água saborizada.

Hoje foi o trecho mais longo da viagem, aproximadamente 800 quilômetros até aqui. Mais da metade dele com chuva. Por isso o cansaço. E amanhã sairemos à 8h, então o melhor a fazer é dormir.

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