sábado, 12 de junho de 2021

Shakespeare para apaixonados

É melhor ser rei de seu silêncio do que escravo de suas palavras.

Durante a fase da conquista, utilizamos várias palavras para nos conhecermos melhor, para entender o outro, compartilhar nossos sentimentos, provocar, fazer sorrir, agradar...

A questão é que, se a relação prosperar, anos depois já teremos usado todos os nossos truques e o que restará serão apenas piadas do dia a dia. Será que isso vai bastar para preencher o espaço compartilhado com a pessoa amada?

Talvez isso funcione quando voltarmos do trabalho com pouco tempo, muito cansados e com sono, mas o que acontecerá nos finais de semana ou durante as férias?

Absolutamente nada.

De fato, nem sequer precisamos de uma televisão ligada na sala para nos sentirmos confortáveis. Há algo muito mais importante para compartilhar com a pessoa amada quando não há novidades para contar: o silêncio.

Um sinal de uma relação saudável é ser capaz de dividir a ausência – sempre relativa – de sons, seja lendo livros ou contemplando um entardecer pela janela.

O compositor John Cage demonstrou, de maneira contundente, em 4’33”, a possibilidade de o silêncio ser belo e compartilhado. A peça consiste em 4 minutos e 33 segundos de puro silêncio e pode ser interpretada por uma orquestra inteira em grandes auditórios.

No dia da estreia, a plateia ficou assustada diante daquela peça em que os músicos não se mexiam e o regente mantinha a batuta imóvel, atento apenas ao relógio. Ao atingir os 4 minutos e 33 segundos, o maestro abaixou a cabeça para receber os aplausos.

Os espectadores ficaram comovidos, talvez porque ninguém mais esteja acostumado a abraçar o silêncio, que é uma trilha sonora perfeitamente romântica para a intimidade a dois.

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