quarta-feira, 3 de março de 2021

Fale sobre sua dor

Recebi a mensagem abaixo da minha amiga Vera Branco. Gostei demais!

Amigos!

Eu aprendi muitas coisas. Mesmo. A coisa mais maravilhosa que a vida fez comigo foi me lapidar, me ensinar.

Então compartilho uma lição que é primordial pra mim: - FALE SOBRE SUA DOR.

Fale sobre aquilo que te dói, que te feriu, que te sujou, que corrompeu a sua autoimagem. Fale.

Algumas pessoas vão te dizer pra você superar, esquecer, seguir em frente, pensar positivo... Mas mesmo que você tente isso tudo o seu corpo vai viver essa experiência negativa de um jeito que nenhuma lição de autoengano vai poder curar. 

Fale sobre sua dor. Quem te ama TEM OBRIGAÇÃO DE TE OUVIR e se ela não ouve é porque, ou está em uma negação severa que também precisa de cuidado, ou simplesmente é porque não te ama tanto.

A sua dor é uma característica sua. Assim como sua alegria, sua sensibilidade, sua tristeza, seu jeito de reagir diante das situações. Ela é um monstro de vários braços e dentes e olhos que vai te comendo por dentro, mas que vai perdendo a força quando você consegue externar, compartilhar, olhar de fora...

Nesse "ESQUECE ISSO, BOLA PRA FRENTE" estão contidos  o "engole o choro", o "seja forte", o "seja homem. Homem não chora", o "Todo mundo tem suas dores e a sua não é maior do que ninguém"... São várias sentenças tóxicas que tem como finalidade reduzir a importação da sua experiência individual.

Não há pensamento positivo que cure uma amputação. O que cura a perda de um membro é a ajuda de um profissional que te cuide, te ensine, te prepare, te medique e te fale sobre a realidade da sua nova vida. O que vai amenizar as perdas e traumas de uma amputação física é o seu amigo, seu amado, seu parente se curando junto com você, te vendo transformado e renascendo e apreendendo a te amparar nos pontos certos. Só a sua coragem de expor onde dói vai ensinar quem te ama a te tratar da melhor forma.

Com as dores da alma acontece a mesma coisa. E os cacos da alma quebrada se espalham por lugares misteriosos que às vezes só outra pessoa ou outro lugar podem te ajudar a achar ou substituir.

E falar do sofrimento não é se apegar a ele. É o contrário. É abrir a porta pra que ele saia sob o sol do autoconhecimento.  Não é feio ser uma vítima.  Não é vitimismo ser uma vítima. Compartilhar sua história é uma coragem. Compartilhar é diferente de capitalizar uma dor e se tornar satélite dela. Assim como você avisa que não pode comer lactose, você tem o direito de avisar que tem limites em relação a certos comportamentos e assim como a good vibe não vai produzir lactase no seu organismo, também não vai te blindar contra as dores do seu transtorno pós-traumático. Não é pra transformar sua dor em seu único assunto eterno. Nem uma felicidade específica da pra ser seu único assunto.  Mas se está em você e deu vontade de falar? FALE.

Eu entendo a boa intenção por trás dos votos de pense positivo.  Somos uma civilização que valoriza os heróis, os blindados, os semideuses. Somos uma geração ensinada a dizer que Deus dá o frio conforme o cobertor e que chama de fraco aquele morreu ao sucumbir ao inverno da alma. Mas, por favor, peço de coração, não coloque um tapete bonito em cima do seu sofrimento. Ele vai comer o chão.

Você que olhe pra uma ferida e ache que a positividade vai colar os beiços do seu corte. A berne vem rapidinho, meu bem. 

Beijos de beijos

Autor: ANDRE GABBEH

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