domingo, 8 de agosto de 2021

Carta de um velho pai

O dia que este velho já não for mais o mesmo tenham paciência e me compreendam.

Quando derramar comida sobre minha camisa e esquecer como amarrar meus sapatos, tenham paciência comigo e lembrem-se das horas que passei lhes ensinando a fazer as mesmas coisas.

Se quando conversam comigo, "repito, repito e repito" as mesmas palavras e sabem de sobra como termina, não me interrompam e me escutem. Quando vocês eram crianças, e para que dormissem, tive que contar milhares de vezes a mesma estória, aguardando até que fechassem os olhinhos.

Quando estivermos reunidos e, sem querer, fizer minhas necessidades, não fiquem com vergonha e compreendam que não tenho a culpa disto, pois já não as posso controlar. Pensem quantas vezes quando crianças os ajudei e estive pacientemente aos seus lados esperando que terminassem o que estavam fazendo. 

Não me reprovem e não me chamem a atenção porque não quero tomar banho. Lembrem-se dos momentos que os persegui e os mil pretextos que inventei para tornar mais agradável os seus banhos. 

Quando me virem inútil e ignorante na frente de todas as coisas tecnológicas que já não poderei entender, lhes suplico para me darem o tempo necessário para não me machucarem com os vossos sorrisos sarcásticos.

Lembrem-se de que fui eu quem lhes ensinei tantas coisas, até a enfrentar a vida tão bem como fazem. Cada virtude é o produto de meu esforço e perseverança. 

Quando em algum momento, enquanto conversamos, eu esqueça do que estamos falando, me deem o tempo necessário para eu lembrar, e se não posso fazê-lo, não fiquem impacientes; talvez não era importante o que falava e a única coisa que queria era estar próximo de vocês, e que me escutassem nesse momento. 

Se alguma vez já não quero comer, não insistam. Sei quando posso e quando não devo. 

Também compreendam que com o tempo já não tenho dentes para morder nem gosto para sentir.

Quando minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, deem-me suas mãos ternas para me apoiar, como eu fiz quando começaram a caminhar com suas fracas perninhas.

Quando algum dia me ouvirem dizer que já não quero viver e só quero morrer, peço para não ficarem chateados. Algum dia entenderão que isto não tem a ver com os seus carinhos ou o quanto os amei.

Tratem de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo, e isto não é viver.

Sempre quis o melhor para vocês e preparei os caminhos que devem percorrer.

Estarei construindo para vocês outra rota em outro tempo, porém sempre com vocês.

Não se sintam tristes, enojados ou impotentes por me verem assim. Deem-me os seus corações, compreendam-me e me apoiem como o fiz quando vieram ao mundo.

Da mesma maneira que os acompanhei em seus caminhos, peço que me acompanhem para terminar o meu. Deem-me amor e paciência, que lhes devolverei gratidão e sorrisos e o imenso amor que tenho por vocês.

Atenciosamente, 

Do vosso velho pai.

Adaptação de Aulus Di Toam

🎉Hoje é dia dos Pais. Parabéns a todos os pais, em especial ao meu. Que já não vive no meio de nós fisicamente, mas vive para sempre no meu coração💖


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