domingo, 4 de abril de 2021

Aniversário minha mãe

E hoje é aniversário da minha mãezinha. Completa 85 anos de vida. E uma vida cheia de emoções e muita história pra contar.

Vou tentar contar um pouco sobre essa mulher forte e batalhadora através da minha memória e o que ela nos conta.

Quando jovem, ela morava em uma chácara, em Valparaíso/SP. E foi em Valparaíso que ela conheceu o meu pai. O romance, pelo jeito turbulento. Um pouco devido a não aprovação dos meus avós, pois, nessa época, e pela cultura, não aceitavam que japoneses se casassem com brasileiros. E acho que meu pai era danado também. Ele estava no exército. Não que os soldados sejam danados, mas meu pai era. E isso já é outra história.

Minha mãe gostava de cantar. Ela disse que ia na rádio da cidade para cantar. E gostava de esportes.

 

Minha mãe conta que ela veio para Campinas, com dois dos irmãos. A tia Susie e o tio Roberto. E tempos depois toda a família veio.

Ela casou com meu pai e viveram aos trancos e barrancos. Muitas e muitas brigas. Meu pai bebia muito. Mas também presenciei cenas de carinho entre os dois.

Quando eu já era criança fomos morar no Jardim Campos Elíseos. Minha mãe comprou um terreno que pagou até quando eu já era adolescente. Lembro que de vez em quando ia com ela na cidade pagar o carnê. Se não me engano a imobiliária (o nome não era bem esse na época) ficava no prédio da Mesbla, na Avenida Campos Sales.

Nesse terreno primeiro moramos em um barraco e aos poucos minha mãe, juntamente com meus tios, construíram cômodos de tijolos.

Minha mãe costura. Acho que desde sempre. Porque sempre a vi debruçada sobre uma máquina de costura. E foi assim que ela sustentou a todos nós. Oito filhos.

Ela sempre cuidou de plantas e, como o terreno era muito grande, tivemos várias árvores frutíferas (abacate, manga, laranja, goiaba, azedinha) hortas (alface, chicória, cheiro verde) e legumes (cenoura, mandioca, batata doce). A gente tinha no quintal quase tudo para nos alimentar.

Até hoje tenho na memória como a gente plantava mandioca. Ela fazia a abertura no solo e a gente já colocando o pedaço do galho da mandioca. E na época de colher, minha mãe ensinou o jeito certo de tirar, para não quebrar no solo.

E o que ela fazia com as mandiocas? Sopa. A gente comia ela cozida com açúcar. E o melhor de tudo. Minha mãe fazia uma coxinha de mandioca que só de lembrar dá água na boca.

Ela plantava milho também, e dele saía curau e pamonha. Além do milho cozido que a gente traçava com gosto.rsrs

No quintal também criamos galinhas. Isso era sofrido. Porque a gente cuidava dos pintinhos, dando quirela para eles e quando já estavam grandes, milho. E um dia minha mãe matava pra gente comer. Lembro de quantas vezes ela falar pra gente sair de perto, porque a galinha demorava mais para morrer, devido a nossa agonia, vendo aquilo.

Por aí dava pra ver a força e coragem da minha mãe.

E além de todas essas delícias que a gente tinha no quintal, minha mãe também tinha flores. Muitas delas.

Minha mãe é tão porreta que apesar de não ter tido muito estudo, ela é muito inteligente. Escreve bem e conhece muita coisa. Conhece uma carne como ninguém. Quantas vezes ela dava o dinheiro e falava pra gente ir no mercado comprar, por exemplo "coxão mole". A gente chegava em casa com a carne, ela olhava e falava: _ Isso aqui não é "coxão mole" isso é "patinho". Volta lá e fala para mandarem a carne certa. E a gente voltava.rsrs

De muitas coisas gostosas que a minha mãe fazia, lembro claramente de duas. Quando a gente ia em festas, na casa dos meus avós e tios, minha mãe fazia um espetinho de carne. Tinha pedaço de carne, cebola e acho que pimentão. Ela empanava e fritava. E ela fazia também uma pizza de sardinha que ninguém mais faz igual. A pizza ela faz até hoje.

Como já falei, minha mãe sempre costurou em casa. Porém, na década de 80 ela trabalhou de costureira, no Eldorado. E depois ela teve um bazar na Rua Álvares Machado, em sociedade com a tia Janete e a tia Susie.

Mesmo assim, ela nunca aposentou a máquina de costura. Até hoje, com seus 85 anos, faz reformas de roupas, para a família e vizinhos.

Ela aposentou com um salário mínimo e faz esses bicos pra ter mais tranquilidade financeira. Ela vende também lingeries, de um senhor que leva e busca na casa dela. Ela vendia Avon também, mas com a pandemia, parou.

Mas ela não faz essas coisas porque passa necessidade. Isso nós, filhos não deixaríamos.

Minha mãe faz essas coisas para de distrair. E acho isso bom.

Ah, e falando em distração, ela faz uma caminhadinha todos os dias. Deu uma diminuída por causa da pandemia, mas de vez em quando, diz que faz.

Durante anos ela foi voluntária, e dava aulas de Lian Gong, no bairro onde mora. Depois que ela teve o enfarte parou de ir. Um tempo depois ela voltou a fazer o exercício em casa. E as alunas começaram a ir fazer com ela.

Com a pandemia ela voltou a fazer sozinha.

Apesar de todas as dificuldades, até que minha mãe viajou bastante. Talvez não o tanto que ela gostaria. Mas acredito que ela aproveitou todas as oportunidades que viu pela frente. Foram muitas excursões (Aparecida do Norte, Campos do Jordão, Barra Bonita, Cachoeira de Emas...). Na década de 90 ela foi passear no Japão. E com o Sandro fez algumas viagens para o Nordeste. E sempre que pode faz viagens pelas cidades e passeios pela região.

Conforme vou escrevendo, vou me lembrando de mais coisas sobre minha mãe. Ela tem história. Que não dá para ser contada de um gole só.

Hoje é dia dela. Queria poder comemorar com ela. Poder abraçar e beija-la. Mas, com a pandemia isso não vai ser possível.

Fui ontem na casa dela. Levar um agrado e poder vê-la, pelo menos.


Peço a Deus que nos dê a oportunidade de escrevermos mais algumas páginas no livro da história da minha mãe. E para isso, peço que Ele a proteja e abençoe, para que ela possa sair dessa pandemia com saúde, garra e disposição para curtir muitos passeios. Muitas viagens. E tudo que o futuro a ela permitir.

NESTA postagem de 2015, tinha falado um pouco sobre minha mãe. 


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