Recebi a crônica abaixo, pelo whatsapp (e por onde
mais seria?rsrs) da minha amiga Jacqueline. Simplesmente adorei! Um texto muito
oportuno, afinal tem muita gente (inclusive eu) tentando se encontrar depois
dessa pandemia.
Procuro embaixo do tapete, dentro do açucareiro...
cadê? Ainda ontem ela estava aqui, diante dos meus olhos, anotada nas páginas
da agenda, o passo a passo dos meus dias, com horários regulados, almoço e
jantar, reuniões de trabalho, namorado no fim de semana.
“Ainda ontem”
é vício de linguagem. Não faz tão pouco tempo assim, já que entrementes houve
uma pandemia que nos paralisou por dois anos, e quando ela começava a ser
controlada, veio essa guerra que alterou os batimentos cardíacos de todos,
então não foi ainda ontem que eu tive uma vida medianamente organizada, mas
lembro bem dela, não pode estar tão longe. Atrás da geladeira, esquecida na
garagem... cadê?
Todas as lives
começavam com a mesma pergunta: qual será o legado dessa crise, como vai ser quando
o vírus deixar de ser uma ameaça, que pessoas nos tornaremos depois dessa
experiência? Ah, seremos mais solidários, levaremos em conta o coletivo,
teremos mais consciência da nossa fragilidade, inventaremos novas profissões
para impulsionar a economia, tudo vai mudar, nada vai mudar. Foi chute para
tudo que é lado e ainda aguardo as confirmações dos prognósticos. De certo,
mesmo, é que a vida que eu tinha aproveitou que eu estava distraída com o
rebuliço do mundo e picou a mula.
Restou essa
desatinada buscando a si mesma. Na gaveta do banheiro... será?
Olha eu ali no
posto abastecendo o carro para dirigir 800 km, sem medo do cansaço ou do preço
da gasolina. Olha eu em frente ao computador pesquisando uma passagem barata
para voar até um país caro (Paris e Londres não pareciam tão distantes). Olha
como eu dormia mais de cinco horas por noite e tinha cinco quilos menos:
lembranças enviadas pelo Facebook, tentando me convencer que aquela continua
sendo eu mesma (coitado, até ele ficou no passado).
Nos álbuns de
fotografias, escondida nas páginas de um livro... onde ela se esconde de mim, a
vida que era minha e que não sei onde foi parar?
Mas parou. É
fato. Paralisou no sinal vermelho e o motor apagou. Alguns veículos passam por
mim em baixa velocidade e gritam pela janela que estou atrapalhando o tráfego.
Outros estão apagados também, ao meu lado, aguardando reboque. Parei, paramos.
Você não?
Pode ser apenas um longo agora, reflexão necessária
sobre este vácuo entre o que fomos e o que seremos. No fundo é a mesma vida,
ainda que pareça vida nenhuma. Talvez tenhamos alcançado o tão desejado “depois
da pandemia”, mas não consigo retomar do mesmo ponto onde parei, nem realizar
um novo parto de mim mesma, desaprendi a partir e acho tudo bem estranho: sério
que usei a palavra entrementes nesse texto? Vou continuar procurando, a vida de
antes deve estar em algum lugar.
Martha Medeiros
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá. Ficarei muito feliz com seu comentário. Só peço que coloque seu nome para que eu possa responder, caso necessário. Obrigada!