sábado, 26 de outubro de 2019

Vivendo no espírito de Jesus

Nesta semana, a "Vivência" da Oficina de Oração nos pede para pôr em prática as obras de misericórdia, fazendo-o no espírito de Jesus. 
As oficinistas devem viver toda a semana alerta, para ver onde se apresenta a oportunidade para realizar uma ou mais obras de misericórdia.
Hoje eu estava pensando que já se passaram três dias e eu não tinha percebido nada. Pelo menos nada diferente do que já vejo todo dia. Eu trabalho no centro. Vejo mendigos o tempo todo. Ajudo conforme sinto que devo. Mas hoje aconteceu algo diferente.
Eu trabalhei até meio dia, depois fui na manicure e depois almocei. Eu ia assistir uma apresentação da banda da Letícia que ia começar às 15h. Ainda era 13:30. Decidi ir um pouco na igreja do Carmo. Ali rezaria um pouco e leria um livro que levava na bolsa. Fiz isso.
Sentei bem perto do altar, do lado direito, de onde podia ver o Santíssimo.
Na mesma direção, do outro lado do corredor, do lado esquerdo estava sentado um senhor. 
Eu já estava lendo quando vi alguém parado, em pé, do meu lado. Era um mendigo. Ele falou que queria comer. Eu falei que não tinha dinheiro. Ele falou que tinha um lugar que passava cartão. 
Não sei. Não senti de dar e falei que não tinha. Ele retrucou comigo e por fim falou: Deus tá vendo você me negando comida. E quando foi sair, acho que teve uma fisgada no pé, porque reclamou de dor. É castigo por estar me criticando só porque não quis ajudá-lo, pensei.
Eu fiquei chateada. Pelo que ele falou. Mas Deus me conhece. Sabe que ajudo quem eu "sinto" de ajudar. Ele saiu e eu fiquei pensando. Será que perdi a oportunidade de praticar uma obra de misericórdia?
Continuei ali. Minutos depois aquele senhor que estava sentado do lado esquerdo veio em minha direção, para olhar para o Santíssimo e passando por mim, perguntou se eu tinha fé.
Eu falei que um pouco. Que preciso melhorar. Então ele falou que hoje ele estava ali para dizer a Deus que ia fazer uma coisa que Deus não ia gostar. Eu perguntei o que era. Ele falou que ia se matar. Eu falei para ele não fazer isso e que era para ele falar comigo. Ele sentou no banco atrás de mim.
Eu guardei o livro na bolsa. Ele falou: _Estou te atrapalhando. De jeito nenhum, eu falei e me virei para conversar com ele.
Ele é o Sr.Reinaldo. Um homem magro (46 quilos), do meu tamanho, cabelos brancos. Deve ter entre 60 e 70 anos. Aparenta bem mais por causa da angústia, do sofrimento, do desespero. Ele disse que é Engenheiro Químico. Trabalhou na Rhodia. Está há um ano e sete meses desempregado. Tem apartamento, mas está sem gás, sem energia elétrica, porque as reservas que tinha acabaram nesse período desempregado.
Foi casado. Tem uma filha que morreu de câncer com 29 anos (quando falou dela ele começou a chorar).
E muitas outras vezes, enquanto falava seus olhos enchiam de lágrimas.
Ele disse que vai receber a primeira aposentadoria dia 10/11. Mas não aguenta mais. Disse que não come nada há três dias. Perguntei se ele procurou ajuda em alguns lugares. Ele disse que foi na Assistência Social da Prefeitura e em outros lugares. Mas percebi - e senti - que dói muito nele ter que pedir, às vezes implorar ajuda. E por isso estava desistindo.
Eu fiquei ali. Ouvindo ele. Pedindo para ele não fazer o que estava pensando. Que tudo nessa vida passa. Que ele ia vencer. Para ele ter fé. E em meu coração, eu pedia para Deus me mostrar o que eu poderia fazer por aquele pobre homem.
Fim da história, consegui fazer ele aceitar os únicos vinte reais que eu tinha na bolsa. Falei para ele comprar marmita. Que talvez ela daria para umas duas refeições (pensei que como ele está magro nem vai conseguir comer muito). E falei que no próximo sábado vou lá na igreja para vê-lo. 
Ele ficou animado. Disse que vai estar lá e vai me levar um livro sobre o Papa Francisco (é que entre tantas coisas, ele me contou algumas palavras e mensagens do Papa que está no livro). 
Eu me despedi do Sr.Reinaldo com um abraço e cada um saiu por um lado da igreja.
Não sei se devia ter feito mais por ele. Fiz o que acho que devia e que podia naquele momento.
Agora, se tem uma coisa que posso e devo fazer é... Orar. E muito🙏🙏
Meu Pai! Não abandone o seu filho - Reinaldo. Fica com ele. Isso é tudo que lhe peço. E, se eu puder fazer mais alguma coisa por ele, me mostre. Amém!

2 comentários:

  1. Muito lindo gesto de amor, exemplo de misericórdia e testemunho de fé! Que Deus ajude o Sr Reinaldo passar essa semana e que sábado o encontre com mais ânimo!! Deus a abençoe!!!

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  2. Não encontrei o Sr.Reinaldo, mas encontrei a verdade. Infelizmente ele é um golpista. Quem me falou foi a moça da secretaria.
    Sabe que depois fiquei pensando se cair no golpe dele foi castigo por não ter ajudado o mendigo. Não creio que Deus faria isso comigo. Fico com essa dúvida. Porque não sei que outro ensinamento tenho que tirar desse acontecimento.

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