Nos últimos anos, houve uma verdadeira explosão de conteúdo sobre
investimentos na internet. Lives, podcasts, vídeos curtos, newsletters e
relatórios feitos por gurus e influenciadores disputam nossa atenção com
promessas de ganhos rápidos, análises de curto prazo e previsões que soam
convincentes — até que deixam de ser. O problema é que esse excesso de opinião,
muitas vezes não testada, enviesada ou baseada em narrativas frágeis, acaba
atrapalhando mais do que ajudando. O investidor pessoa física, que já enfrenta
um ambiente de incertezas e ruídos, acaba soterrado por um excesso de vozes,
muitas das quais não têm compromisso com processo, só com visibilidade.
A verdade é que investir bem não exige acertar previsões. Exige ter um
processo claro e consistente. Um processo é, essencialmente, um conjunto de
princípios e práticas que orientam a tomada de decisão, independentemente do
ruído do mercado. É o que separa o investidor sério do apostador disfarçado.
Quem entra na Bolsa procurando “a próxima oportunidade de mercado” ou esperando
dobrar o patrimônio com uma cripto em alta, está mais próximo de um jogador de
pôquer do que de um alocador racional de capital.
Um processo robusto começa por reconhecer os próprios limites. O
investidor individual raramente terá acesso à alguma informação não-precificada
ou à capacidade analítica de uma grande gestora. E tudo bem. Grandes
investidores, como Howard Marks, Ray Dalio ou mesmo Warren Buffett, não
construíram suas fortunas com base em previsões precisas sobre o futuro. Eles
trabalham com cenários, margens de segurança e disciplina. Eles sabem que, no
mercado, o desconhecido sempre terá peso. E, por isso, constroem estratégias
que funcionam mesmo quando estão errados, como Ray Dalio com o seu “All Weather
Portfolio”.
Ter um processo significa entender que rentabilidades passadas não
garantem retornos futuros — e, muitas vezes, são apenas ruído estatístico.
Significa valorizar a diversificação, não como um clichê, mas como um
reconhecimento de que o erro é inevitável. Significa prestar atenção aos custos
— de corretagem, de administração, de carregamento — que corroem o retorno no
longo prazo de maneira silenciosa. Significa manter liquidez suficiente para
não precisar vender ativos em momentos ruins, quando o pânico atinge o mercado.
E, talvez mais importante que tudo, significa desenvolver a musculatura
emocional para resistir à tentação de agir por impulso, seja por ganância ou
por medo.
A maioria dos investidores perde dinheiro não porque escolheu o ativo
errado, mas porque reagiu mal ao mercado. Comprou no topo com medo de “ficar de
fora” e vendeu no fundo por medo de perder tudo. Esse padrão se repete ano após
ano. E só muda quando o investidor substitui a ânsia por acerto por um
compromisso com o processo.
No Brasil, onde a educação financeira ainda engatinha e a memória
inflacionária dos anos 80 e 90 incentiva decisões de curto prazo em muitos
investidores, essa discussão é especialmente relevante. A democratização do
acesso à renda variável foi um passo importante, mas precisa vir acompanhada da
democratização do pensamento de longo prazo. Isso exige mais do que gráficos
bonitos ou frases de efeito. Exige uma mudança de mentalidade.
Por isso, talvez o melhor conselho que um investidor iniciante possa
ouvir não seja “compre ações”, “compre Tesouro Direto” ou “fuja de FIIs”. O
melhor conselho é: construa um processo. Porque é o processo — e não a última
opinião da internet — que vai determinar se você conseguirá investir por 10,
20, 30 anos com consistência. E, no fim das contas, é isso que realmente
importa.
Rodrigo Leite
Fonte: https://br.investing.com/analysis/o-investidor-pessoa-fisica-precisa-de-menos-opiniao-e-mais-processo-200472020
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