sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Carta: De Clara para Bia

Bia, minha doçura,

Não, não, não, está proibida de ficar triste, pro-i-bi-da! Pirou? Perdeu a noção do perigo?

Caramba, como é que uma mulher como você pode se deixar abater pelo final de um romancezinho à toa? Sorry, sei que não foi à toa, que você curtiu, se esbaldou, foi bacana, tá bom, tá bom, é que, como não participei, não vi nada, nem conheci o tal fulano, fico imaginando que foi uma relação fantasma, às vezes eu pensava que você tinha inventado esse cara, mas ok, me desculpe, sei que foi importante.

Mas puta que pariu, não pode ficar abalada desse jeito! Não você! Não minha Biazinha, não minha amigona, minha fortaleza, você desmoronar é o prenúncio do fim do mundo, impeço, proíbo, não deixo.

Aaahhhh, tá bom. Sei que é foda. Dor de cotovelo é pior que arrancar um siso, pior que fratura exposta – aliás, é uma fratura exposta.

A gente fica ali vendo o osso pra fora, doendo feito a morte, e pensando se a coisa vai voltar pro lugar, se vamos andar de novo, se é possível tocar a vida sem se sentir um aleijado. Pô, se você não conseguir, quem vai? Bia, chore escondido, se esparrame na cama e molhe o travesseiro, faça aquele número que todo mundo conhece: chamar a si mesma de imbecil e decretar que nunca mais, nunca mais... Ora, nunca mais amar, nunca mais acreditar nas palavras bonitas desses sacanas, nunca mais tudo! Dê seu show particular, reprise o dramalhão algumas noites, e depois enxugue essas lágrimas e volte pra vida. Pra vida! Ele é o único homem do mundo? Não, né? Você disse que foi uma espécie de milagre a história de vocês acontecer, então, minha santa, quem faz um, faz outro, aproveite o know-how e dá-lhe milagre! Você já fez tanto por você, já foi tão longe, não vai entregar os pontos agora, nem pensar.

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Eu queria estar aí em Porto Alegre pra segurar sua mão, pentear seus cabelos, te levar para um shopping e dar um up nesse seu astral moribundo – você ainda detesta shopping? Menina, que DNA defeituoso esse seu, me explica como alguém pode não gostar de comprar.

Gostando ou não, prometa que vai esta semana entrar numa loja bem cara e sair de lá com um monte de roupas que você não sabe onde irá usar. Ajuda, claro que ajuda. E nem ouse ler os e-mails dele, ver as fotos dele, lembrar dele! Lobotomia autorizada, lacre esta parte do cérebro, a da memória.

Não lembre nada, não viva pra trás: planeje! Foque no futuro: uma viagem, um projeto profissional, novos amigos, novos hábitos! Encoraje-se, o verão está chegando e você está magra, magérrima! Bote este corpão numa praia, espalhe este seu sorriso lindo e você vai ver o que acontece. Milagres!!

Não pergunte por mim, eu poderia ser animadora de auditório, mas quando se trata da minha própria vida é uma desolação. Estou sem ninguém há séculos, aqui em São Paulo sou a mulher invisível, poderia entrar num restaurante e sair sem pagar que ninguém viria atrás cobrar a conta, já é um superpoder, não é?

Mas eu me acostumei com isso e nem dou mais bola, mas você, Biazinha, você é de outra linhagem, é uma mulher que precisa, pre-ci-sa estar amando, estar apaixonada, caso contrário não vive, fica robotizada, e você exige estar sempre possuída por um encantamento. Eu estive com você lá atrás, naqueles tempos duros, solitários, e sei que você merece um arrebatamento mais do que ninguém. Te amo como a uma irmã, mais do que amo minha irmã, até. Não conte pra ela senão ela apertará aquelas duas mãos gordas no meu pescoço. Bia, o que eu posso fazer de concreto a não ser te botar pilha inútil? Pensa que eu não sei que palavras não servem pra nada? Não servem pra nada. Ah, mulher, queria trocar de lugar com você pra te dar uma aliviada, sofrer um pouquinho no seu lugar, você já fez tanto por mim quando eu estava naquele desespero, lembra? Não lembre, esqueça.

Sofrer por amor é um atraso de vida, e não há remédio que entorpeça a dor, que amenize, que anestesie, nada, nada, antidepressivo não funciona nessa hora, e cocaína não ouse... A indústria farmacêutica ainda está muito atrasada em relação a corações feridos, não acha? Psiquiatra, que tal?

Conheço você, é durona, vai resistir, vai sobreviver a mais esta rasteira. Biazinha, eu sei de pelo menos três homens alucinados por você, que largariam família, emprego, amante, saltariam de um foguete em movimento para voltar pra Terra e te pegar, então escuta, trata de sentar, respirar, ficar bonitinha e avaliar os candidatos.

Tô enxergando você aí puta da vida do outro lado, dizendo que não quer saber de ninguém, só dele, dele ... Esses homens que nos largam, como ficam importantes depois que somem.

Antes você nem dava muita bola pra ele, e agora olhe você. Vai superar, belezoca. Um pouquinho de paciência e champanhe e você melhora rapidinho.

Bia, não sei dizer as coisas sérias e inteligentes que dizem nossas outras amiga, elas devem estar sendo mais úteis do que eu neste seu momento, mas daqui de longe tudo o que posso fazer é te mandar estas letras de apoio do meu jeito atrapalhado e sem conteúdo, sou assim na alegria e na tristeza, no amor e na doença, um traste que não sabe dizer coisas profundas mas que te abraça e beija, kisses!

Clara

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