Pais relatam a experiência de conviver com crianças que eles classificam como especiais, ainda que sem comprovação científica. Entenda o que são as crianças índigo
Mesmo antes de ter seu primeiro filho – Henrique, hoje com cinco anos – a dona de casa Alessandra, que prefere não revelar seu sobrenome, achava que seria mãe de uma criança mais avançada que as outras. “Eu havia sonhado que duas freiras me entregavam o bebê e diziam que a profecia se concretizava”, revela. Quando o menino começou a falar, mostrou-se diferente. “Ele sempre pediu que eu rezasse, diz que vê uma luz dourada ao meu redor quando faço isso. Aos dois anos, me falou que não conseguia entrar no quarto de brinquedos porque havia um jacaré lá, e eu precisava rezar para o bicho ir embora. Rezei e ele foi acompanhando com os olhos a ‘saída’ do animal”, conta.
À medida que Henrique cresce, outras características especiais se manifestam. “Ele é muito questionador e não se contenta com um ‘não’ como resposta; argumentamos como adultos e ele fica satisfeito. Também é livre, independente, agregador e se preocupa com os outros, coloca as mãozinhas sobre machucados para curá-los. Com pequenos comentários, nos faz refletir sobre nossas atitudes e crescer como seres humanos”, enumera a mãe. E então Alessandra descobriu que seu filho poderia ser classificado como uma criança índigo.
De acordo com a literatura sobre o assunto (alguns dos
livros de referência são “Educando Crianças Índigo – Uma Nova Pedagogia
para as Crianças da Nova Era!”, de Egidio Vecchio, e “Crianças Índigo –
Uma Visão Espiritualista”, de Rosana Beni), as características do garoto
são mesmo as de um índigo. O conceito surgiu em 1982, com a publicação
de “Entendendo sua Vida Através da Cor”, da norte-americana Nancy Ann
Tappe. Nele, a parapsicóloga descreve um novo padrão de comportamento de
algumas crianças nascidas a partir dos anos 1970, que vieram ao mundo
para provocar uma grande transformação social e que teriam a aura azul –
daí o “índigo” do nome.
Mas não é só de paz e espiritualidade
que o universo das crianças índigo é composto. Algumas de suas
características negativas são a falta de concentração quando a atividade
não é de seu interesse, pouco respeito por autoridade e a distração
excessiva. A secretária Daniela Santos notou isso em sua filha Júlia, de
quatro anos, e preferiu procurar ajuda médica. “Para mim, ela tinha
TDAH
[transtorno de déficit de atenção com hiperatividade]
. Conversei com o pediatra e ele pediu exames, que não indicaram nada
neurologicamente errado com ela. Foi então que algumas pessoas da minha
família começaram a me falar que achavam que a Júlia era índigo”,
afirma.
A ideia foi inicialmente rejeitada por Daniela. “Sou
muito católica e achava que isso era coisa de espírita”, justifica-se.
Depois de ler sobre crianças índigo e desfazer essa impressão – o
espiritismo não é a “religião oficial dos índigos”, apenas aceita melhor
a questão –, convenceu-se de que sua menina é uma delas. “Chamou muito
minha atenção saber que os índigos amam a natureza e os animais, sofrem
por causa de violência contra eles. A Júlia é assim, fica mais à vontade
no parque do que em casa e chora se vê um cãozinho ou um gatinho
machucado”.
Não há comprovação científica para a teoria das crianças índigo. Sobre o
tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria se limita a declarar, por
e-mail, que “é um assunto que não elucida nada científico”. Por isso, a
psicóloga Fatima Olivares recomenda aos pais que tiverem dúvidas
procederem como Daniela. “Muitos ‘sintomas’, como a inquietude e a
dificuldade de atenção, são parecidos, e o TDAH
precisa ser tratado de forma adequada, pois traz muito sofrimento à criança”, explica.
Em seu consultório, a psicóloga já ouviu relatos de mães
que notaram que havia algo diferente em seus filhos, no sentido de serem
índigos, desde muito cedo. “São bebês que olham nos olhos
demoradamente, respondem mais prontamente a estímulos externos, andam e
falam precocemente. Como é um comportamento que envolve intelecto,
físico e emoção, os pais notam isso pela convivência com a criança. Não
existe algo específico que ‘denuncie’ um índigo”, diz.
Pessoalmente, Fatima não crê que os pais possam achar que
um filho seja índigo por pura “corujice”. “Os adultos sabem
perfeitamente quem são suas crianças, com seus defeitos e suas
qualidades. Sabem de verdade quando o filho é índigo”, afirma. Caso eles
estejam convencidos de que esse é realmente o caso, ela considera
essencial que o lar seja tranquilo, organizado e equilibrado e que seja
escolhida para o pequeno uma escola que tenha acesso mais fácil a
expressões artísticas e que responda à sensibilidade dessas crianças.
“As escolas com a pedagogia Waldorf são as que mais se encaixam nesse
perfil”, orienta.
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