E hoje é aniversário da minha mãezinha. Completa 85
anos de vida. E uma vida cheia de emoções e muita história pra contar.
Vou tentar contar um pouco sobre essa mulher forte e
batalhadora através da minha memória e o que ela nos conta.
Quando jovem, ela morava em uma chácara, em
Valparaíso/SP. E foi em Valparaíso que ela conheceu o meu pai. O romance, pelo
jeito turbulento. Um pouco devido a não aprovação dos meus avós, pois, nessa
época, e pela cultura, não aceitavam que japoneses se casassem com brasileiros.
E acho que meu pai era danado também. Ele estava no exército. Não que os
soldados sejam danados, mas meu pai era. E isso já é outra história.
Minha mãe gostava de cantar. Ela disse que ia na
rádio da cidade para cantar. E gostava de esportes.
Minha mãe conta que ela veio para Campinas, com dois
dos irmãos. A tia Susie e o tio Roberto. E tempos depois toda a família veio.
Ela casou com meu pai e viveram aos trancos e
barrancos. Muitas e muitas brigas. Meu pai bebia muito. Mas também presenciei
cenas de carinho entre os dois.
Quando eu já era criança fomos morar no Jardim Campos
Elíseos. Minha mãe comprou um terreno que pagou até quando eu já era
adolescente. Lembro que de vez em quando ia com ela na cidade pagar o carnê. Se
não me engano a imobiliária (o nome não era bem esse na época) ficava no prédio
da Mesbla, na Avenida Campos Sales.
Nesse terreno primeiro moramos em um barraco e aos
poucos minha mãe, juntamente com meus tios, construíram cômodos de tijolos.
Minha mãe costura. Acho que desde sempre. Porque
sempre a vi debruçada sobre uma máquina de costura. E foi assim que ela
sustentou a todos nós. Oito filhos.
Ela sempre cuidou de plantas e, como o terreno era
muito grande, tivemos várias árvores frutíferas (abacate, manga, laranja,
goiaba, azedinha) hortas (alface, chicória, cheiro verde) e legumes (cenoura,
mandioca, batata doce). A gente tinha no quintal quase tudo para nos alimentar.
Até hoje tenho na memória como a gente plantava
mandioca. Ela fazia a abertura no solo e a gente já colocando o pedaço do galho
da mandioca. E na época de colher, minha mãe ensinou o jeito certo de tirar,
para não quebrar no solo.
E o que ela fazia com as mandiocas? Sopa. A gente
comia ela cozida com açúcar. E o melhor de tudo. Minha mãe fazia uma coxinha de
mandioca que só de lembrar dá água na boca.
Ela plantava milho também, e dele saía curau e
pamonha. Além do milho cozido que a gente traçava com gosto.rsrs
No quintal também criamos galinhas. Isso era sofrido.
Porque a gente cuidava dos pintinhos, dando quirela para eles e quando já
estavam grandes, milho. E um dia minha mãe matava pra gente comer. Lembro de
quantas vezes ela falar pra gente sair de perto, porque a galinha demorava mais
para morrer, devido a nossa agonia, vendo aquilo.
Por aí dava pra ver a força e coragem da minha mãe.
E além de todas essas delícias que a gente tinha no
quintal, minha mãe também tinha flores. Muitas delas.
Minha mãe é tão porreta que apesar de não ter tido
muito estudo, ela é muito inteligente. Escreve bem e conhece muita coisa.
Conhece uma carne como ninguém. Quantas vezes ela dava o dinheiro e falava pra
gente ir no mercado comprar, por exemplo "coxão mole". A gente
chegava em casa com a carne, ela olhava e falava: _ Isso aqui não é "coxão
mole" isso é "patinho". Volta lá e fala para mandarem a carne
certa. E a gente voltava.rsrs
De muitas coisas gostosas que a minha mãe fazia,
lembro claramente de duas. Quando a gente ia em festas, na casa dos meus avós e
tios, minha mãe fazia um espetinho de carne. Tinha pedaço de carne, cebola e
acho que pimentão. Ela empanava e fritava. E ela fazia também uma pizza de
sardinha que ninguém mais faz igual. A pizza ela faz até hoje.
Como já falei, minha mãe sempre costurou em casa.
Porém, na década de 80 ela trabalhou de costureira, no Eldorado. E depois ela
teve um bazar na Rua Álvares Machado, em sociedade com a tia Janete e a tia
Susie.
Mesmo assim, ela nunca aposentou a máquina de
costura. Até hoje, com seus 85 anos, faz reformas de roupas, para a família e
vizinhos.
Ela aposentou com um salário mínimo e faz esses bicos
pra ter mais tranquilidade financeira. Ela vende também lingeries, de um senhor
que leva e busca na casa dela. Ela vendia Avon também, mas com a pandemia,
parou.
Mas ela não faz essas coisas porque passa
necessidade. Isso nós, filhos não deixaríamos.
Minha mãe faz essas coisas para de distrair. E acho
isso bom.
Ah, e falando em distração, ela faz uma caminhadinha
todos os dias. Deu uma diminuída por causa da pandemia, mas de vez em quando,
diz que faz.
Durante anos ela foi voluntária, e dava aulas de Lian
Gong, no bairro onde mora. Depois que ela teve o enfarte parou de ir. Um tempo
depois ela voltou a fazer o exercício em casa. E as alunas começaram a ir fazer
com ela.
Com a pandemia ela voltou a fazer sozinha.
Apesar de todas as dificuldades, até que minha mãe
viajou bastante. Talvez não o tanto que ela gostaria. Mas acredito que ela
aproveitou todas as oportunidades que viu pela frente. Foram muitas excursões
(Aparecida do Norte, Campos do Jordão, Barra Bonita, Cachoeira de Emas...). Na
década de 90 ela foi passear no Japão. E com o Sandro fez algumas viagens para
o Nordeste. E sempre que pode faz viagens pelas cidades e passeios pela região.
Conforme vou escrevendo, vou me lembrando de mais
coisas sobre minha mãe. Ela tem história. Que não dá para ser contada de um gole
só.
Hoje é dia dela. Queria poder comemorar com ela.
Poder abraçar e beija-la. Mas, com a pandemia isso não vai ser possível.
Fui ontem na casa dela. Levar um agrado e poder
vê-la, pelo menos.
Peço a Deus que nos dê a oportunidade de escrevermos
mais algumas páginas no livro da história da minha mãe. E para isso, peço que
Ele a proteja e abençoe, para que ela possa sair dessa pandemia com saúde,
garra e disposição para curtir muitos passeios. Muitas viagens. E tudo que o
futuro a ela permitir.
NESTA postagem de 2015, tinha falado um pouco sobre minha mãe.
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