Acabei de receber a mensagem abaixo da minha amiga Jacqueline. Uma reflexão muito oportuna para o momento. Inclusive semana passada escrevi sobre isso. Que estava me sentindo órfã, uma vez que minha mãe faleceu no dia 13 de maio. Li a mensagem e compartilhei no grupo da “Família”. Meus irmãos também devem estar com esse mesmo sentimento.
QUANDO OS PAIS PARTEM: O SILÊNCIO DA ORFANDADE ADULTA
A morte dos pais é uma experiência que, mesmo esperada com o passar dos
anos, nunca deixa de ser um terremoto silencioso na nossa alma. Quando ambos os
pais se vão, e nos tornamos órfãos já adultos, algo muda dentro de nós de forma
sutil e profunda.
De repente, por mais madura que seja a nossa idade, vemo-nos “despidos”
diante da vida. A sensação de pertencer a um lugar seguro desaparece. Não
importa quão longa tenha sido a jornada, mas perder os pais é como perder as
raízes, o porto, a bússola. É uma dor que vem ao mesmo tempo com um enorme peso
e um estranho vazio. Já não há mais aquela voz ao telefone a perguntar se
chegamos bem, não há mais aquela casa que, mesmo envelhecida, parecia eterna.
Os rituais simples — o almoço de domingo, o conselho repetido, o abraço que
parecia curar tudo — tornam-se lembranças que ardem.
A orfandade na vida adulta traz uma estranha inversão: a criança que
fomos, parece despertar, como se estivesse à procura de um colo num mundo que
já não oferece mais esse abrigo. E junto disso, vem uma nova camada de solidão:
a percepção de que agora somos os próximos na fila, que a geração anterior se
foi, e que nós, queiramos ou não, carregamos agora a tocha da história da
família. Não é apenas a ausência física que dói, mas o silêncio do mundo sem
aqueles que sabiam quem nós éramos antes mesmo de nos tornarmos adultos.
Ninguém mais vai lembrar-se dos nossos primeiros passos, do nosso primeiro
dente que caiu, do medo que sentíamos no escuro. Há uma parte da nossa história
que morre com eles, e isso deixa uma espécie de luto, que também o é por si
mesmo.
Mas aos poucos, se houver tempo e amor, o luto encontra um lugar tranquilo na nossa memória. A dor torna-se uma presença delicada. O colo perdido transforma-se numa força que mora bem dentro do nosso coração e, no silêncio que os pais deixaram, começa a nascer um tipo de paz que honra o que eles foram para nós e tudo aquilo que deixaram gravado em nós mesmos.
José Micard Teixeira
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