No mundo dos
negócios, existe um cálculo chamado custo/benefício que deveria ser usado em
todas as circunstâncias da vida. O que todo mundo quer – claro – é se atirar a
todos os prazeres, sem pensar nas consequências. Só que para cada prazer
costuma chegar, mais cedo ou mais tarde, a conta. Mesmo quando se trata de
coisas banais.
Quem não gosta de
ver um filme na televisão comendo uma caixa de chocolates inteira? Só que no
dia seguinte, na hora de entrar no jeans, não consegue, e talvez se arrependa
quando pensar que vai passar uma semana tomando sopa para poder voltar à forma
antiga. Será que valeu?
Existem dias em
que tudo conspira a favor: você está rodeada de pessoas de quem gosta, a
conversa está ótima, a música maravilhosa, não vai ter que trabalhar no dia
seguinte, já sabe em quem vai votar. Porém, às vezes você tem um trabalho para
terminar – e como resistir àquele convite? A certeza de uma noite agradável é
bem melhor do que cumprir a obrigação, claro. Acaba optando por deixar a tarefa
para o dia seguinte; afinal, pode conciliar, e não perde o jantar nem o
trabalho. Aí, passa a noite angustiada, acaba fazendo mal o trabalho e se
sentindo péssima – será que valeu? O que se quer na vida é comer bolo e ao
mesmo tempo guardar o bolo, e quem souber conciliar as duas coisas, por favor,
cartas à redação.
Mas existem
problemas mais difíceis de resolver: é quando eles envolvem sentimentos. Você
está com um homem legal, mas passando por um momento de crise. Há muito tempo
ele não diz que você é bonita e gostosa, como fazia antes, e você precisa ouvir
essas palavras mais do que do ar que respira. Pois é exatamente nessa hora que
aparece o outro.
Mesmo não sendo
especialmente bonito ou brilhante, ele tem faro; faro para detectar que aquele
é o momento certo para chegar perto e dizer o que você precisa ouvir: que é
bonita e gostosa – e tudo que vem na sequencia. E aí, como é que fica?
Se for em frente,
está arriscando uma relação com muitos prós por uma aventura que pode ou não
ter consequências, e geralmente não tem. Mas por acaso é justo abrir mão de
sensações maravilhosas, de ouvir declarações de amor, de ter a ilusão de estar
apaixonada, do coração que dispara, em nome – aliás, em nome de quê? Ah, que
nenhuma mulher nessa situação peça conselhos, pois só ela pode saber o que
fazer; ela e mais ninguém.
Será paixão? Será
a necessidade de quebrar o tédio em que se transformou a vida? Será uma atração
física incontrolável? Ou estará ela apenas precisando ouvir de um homem, de
qualquer homem, as coisas que o outro não diz mais? Será, será – será o quê?
Difícil esse
momento. Se resolver ser sensata, vai se achar antiga e careta; se por acaso se
deixar levar, estará tornando muito vulnerável uma relação que ainda não
acabou, e que poderia nem estar assim tão ruim se não tivesse aparecido o galã.
Antes de tomar
qualquer decisão mais radical, seria bom raciocinar, mas para isso é necessário
cabeça fria. Para não pensar que está apaixonada sem estar, para não achar que
uma atração física – que pode existir por vários homens, aliás, e até ao mesmo
tempo – é incontrolável, para não pensar que essa dificuldade vital de se
sentir desejada é suficiente para mudar os rumos de uma vida.
É claro que não
se pode – nem se deve – ser sensata o tempo todo. Mas quando a conta chegar –
porque ela chega – é importante que seja paga com prazer. E só se paga com
prazer o que valeu de verdade.
Danuza Leão
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