No sábado à tarde, quando estávamos passeando de
carroça, o condutor passou na frente do teatro. O Zé desceu e foi ver se estava
tendo peça. Demos sorte, pois disseram que naquela noite teria peça de estreia
– retorno após meses fechado por causa da pandemia.
Zé comprou os ingressos. R$ 55,00 cada um. Assentos
C1 e C3. O título da peça “Amor Boneco”. O horário: 21h.
Chegamos uns minutos antes. Quando deu o horário,
tocou uma campainha. Entramos e nos acomodamos. No total doze pessoas.
As luzes se apagaram. Em um canto, uma mesinha com
algumas placas. Um dos atores foi até a mesa, pegou uma placa, virou e mostrou
para a plateia. Estava escrito: Fogo. Era o tema da estória que seria contada.
As placas seguintes foram: AVUA, mansamente, Rodin Rodin , intimidade e uma que
não lembro o que estava escrito (Zé também não lembra).
Vamos combinar uma coisa. Quando se ouve falar em “bonecos”
e “estórias contadas” o que vem à mente? Na minha: inocência e saudosismo.
Pois bem. Na primeira estória “fogo” uma menina
(boneca) está sentada no chão, e acende uma fogueirinha. Um menino (boneco) se
aproxima e tenta chamar a atenção dela, jogando pedrinhas perto de onde ela
estava. Ele se aproxima e fica paquerando ela. Dá uns beijinho.
Em AVUA, dois atores ficam dançando ao som de uma
música, cada um com uma borboleta (de papel) na mão. Simulando elas voando e
pousando nas plantas.
Até aí tudo bem. Então chegou o “mansamente”. Nessa
estória, os bonecos, uma índia (digo isso porque ela estava nua) estava
sentada, encostada em uma pedra (ou era árvore? Não lembro) e chegou um índio.
Ele começou a acariciar ela. Passou a mão aqui. Ali. E naquilo. Eu não estava
acreditando no que estava vendo. E, por fim... Ele ficaram “fazendo amor”.
Terminou e eu não consegui aplaudir. Não curti.
Depois teve a dança Rodin Rodin. Um homem e uma
mulher, ela de maiô cor da pele. E ele uma sunga cor da pele. A dança um pouco
erótica e acrobática. Até que foi de boa.
Mas, quando o ator levantou a placa “intimidade”
fiquei preocupada. Em um canto do palco, um homem (boneco) está sentando, pintando
uma miniatura de barco. Do lado dele uma mulher (boneca) passando creme na
perna. Ou raspando a perna. Sei lá. Sei que ela ficava mexendo nas pernas. E
olhando para o homem. No fundo, um casal fazendo gestos parecidos com o que os
bonecos estavam fazendo. Então a mulher pega uma sombrinha e sai de cena. Nisso
chega uma boneca com sombrinha (que seria a mulher) e se junta ao casal de
bonecos. E começa a beijar ele. Beijar ela. Entenderam o que estava
acontecendo?
Eu fiquei inconformada. Desiludida. Mais uma vez não
aplaudi.
A última estória era um casal de velhinhos. Até que
foi bonitinho. Mas aí eu já nem prestava atenção. Tanto que nem lembro o nome
da placa (o título da estória deles), muito menos o enredo.
Sei que saímos do teatro decepcionados. Acho que se a gente tivesse visto o "tema" da peça, que estava escrito nos ingressos, talvez teríamos ideia. Mas vi só depois. Bem depois.
Será que com essas estórias eles atraem mais público?
Pode até ser. Eu não gostei. Achei apelativo.
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