“Os lugares onde se esconder são numerosos, mas só há
uma saída, embora as possibilidades de escapar outra vez sejam tantas quantos
os lugares onde se esconder.”
Esta enigmática reflexão de Kafka me faz lembrar de
um conto contemporâneo de autor desconhecido.
Seu protagonista é um homem condenado a trinta anos
de prisão por um crime que não cometeu. Os altos muros cinza foram, durante toda
a sua juventude, a paisagem cotidiana que seus olhos viram.
Pouco a pouco ele foi se habituando ao ambiente
carcerário: os demais internos se tornaram seus irmãos, e os responsáveis pelo
lugar se transformaram na autoridade familiar. Sua cela era seu quarto, e a
biblioteca era seu único refúgio. Os livros de aventuras o transportavam para
além dos muros de concreto.
Chegou o dia em que a sua sentença foi cumprida, mas
ninguém se lembrou disso, nem sequer ele mesmo. Três anos se passaram, e um
funcionário percebeu que o homem já tinha direito à liberdade havia tempos.
Ao lhe comunicarem isso, ele ficou aterrorizado.
Quando as portas da prisão se fecharam às suas costas, ele sentiu-se nu. De
repente, o mundo exterior – a liberdade – lhe parecia uma prisão imensa.
Todos somos um pouco como esse homem. Ansiamos pela
liberdade, mas morremos de medo dela.
***
Postei a mensagem acima por dois motivos:
1º) Hoje é aniversário de morte de Franz Kafka - 03/06/1924 - Kierling, Klosterneuburg, Áustria
2º) Porque estamos vivendo um período (isolamento) em que muitos dizem (mesmo que em brincadeira) que estamos presos. Almejando a liberdade!
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