É melhor ser rei de seu silêncio do que escravo de suas
palavras.
Durante a fase da conquista, utilizamos várias
palavras para nos conhecermos melhor, para entender o outro, compartilhar
nossos sentimentos, provocar, fazer sorrir, agradar...
A questão é que, se a relação prosperar, anos depois
já teremos usado todos os nossos truques e o que restará serão apenas piadas do
dia a dia. Será que isso vai bastar para preencher o espaço compartilhado com a
pessoa amada?
Talvez isso funcione quando voltarmos do trabalho com
pouco tempo, muito cansados e com sono, mas o que acontecerá nos finais de
semana ou durante as férias?
Absolutamente nada.
De fato, nem sequer precisamos de uma televisão
ligada na sala para nos sentirmos confortáveis. Há algo muito mais importante
para compartilhar com a pessoa amada quando não há novidades para contar: o
silêncio.
Um sinal de uma relação saudável é ser capaz de
dividir a ausência – sempre relativa – de sons, seja lendo livros ou
contemplando um entardecer pela janela.
O compositor John Cage demonstrou, de maneira
contundente, em 4’33”, a possibilidade de o silêncio ser belo e compartilhado.
A peça consiste em 4 minutos e 33 segundos de puro silêncio e pode ser
interpretada por uma orquestra inteira em grandes auditórios.
No dia da estreia, a plateia ficou assustada diante
daquela peça em que os músicos não se mexiam e o regente mantinha a batuta
imóvel, atento apenas ao relógio. Ao atingir os 4 minutos e 33 segundos, o
maestro abaixou a cabeça para receber os aplausos.
Os espectadores ficaram comovidos, talvez porque ninguém mais esteja acostumado a abraçar o silêncio, que é uma trilha sonora perfeitamente romântica para a intimidade a dois.
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