Nome da cidade, tanto de tanto de dois mil e tanto.
Nome do destinatário.
Envio esta carta porque nunca mais quero você na minha frente. E
dessa vez falo sério. Nunca mais quero ouvir a sua voz, mesmo que seja se
derramando em desculpas. Nunca mais quero ver a sua cara, nem que seja se
debulhando em lágrimas arrependidas. Quero que você suma do meu contato, igual
a um vírus ao qual já estou imune.
A verdade é que me enchi. De você, de nós, da nossa situação sem
pé nem cabeça. Não tem sentido continuarmos dessa maneira. Eu, nessa constante
agonia, o tempo todo imaginando como você vai estar. E você, numas horas doce,
noutras me tratando como lixo. Não sou lixo. Tampouco quero a doçura dos
culpados, artificial como aspartame.
Fico pensando como chegamos a esse ponto. Como nos permitimos
deixar nosso amor acabar nesse estado, vendido e desconfiado. Não quero mais
descobrir coisas sobre você, por piores ou melhores que possam ser. Não quero
mais nada que exista no mundo por sua interferência. Não quero mais rastros de
você no meu banheiro.
Assim, chega. Chega de brigas, de berros, de chutes nos móveis.
Chega de climas, de choros, de silêncios abismais. Para quê, me diz? O que,
afinal, eu ganho com isso? A companhia de uma pessoa amarga, que já nem quer mais
estar ali, ao meu lado, mas em outro lugar? O tédio a dois - essa é a minha
parte no negócio? Sinceramente, abro mão. Vou atrás de um outro jeito de viver
a minha vida, já que em qualquer situação diferente estarei lucrando. Mas antes
faço questão de te dizer três coisas.
Primeira: você não é tão interessante quanto pensa. Não mesmo.
Tive bem mais decepções do que surpresas durante o tempo em que estivemos
juntos.
Segunda: não vou sentir falta do teu corpo. Já tive melhores,
posso ter novamente, provavelmente terei. Possivelmente ainda esta semana.
Terceira: fiquei com um certo nojo de você. Não sei por quê, mas
sua lembrança, hoje, me dá asco. Quando eu quiser dar uma emagrecida, vou
voltar a pensar em você por uns dias. Bom, era isso. Espero que esta carta
consiga levantar você do estado deplorável em que se encontra. Mentira. Não
espero nenhum efeito desta carta, em você, porque, aí, veria-me torcendo pela
sua morte. Por remorso. E como já disse, e repito, para deixar o mais claro
possível, nunca mais quero saber de você.
Se agora, isso ainda me causa alguma tristeza, tudo bem. Não se
expurga um câncer sem matar células inocentes.
Adeus, graças a Deus.
Nome do remetente.
P.S.: esta não é mais uma dessas carta-desabafo.
P.S. do P.S.: esta é uma
carta-desabafo-quase-música-de-Adriana-Calcanhoto.
Fernanda Young
P.S.: Essa crônica saiu DAQUI!
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