Você conhece um chato. Ou dois. Ou meia dúzia. E até
gosta deles, viraram figuras folclóricas na sua vida. Talvez seja um cunhado,
um amigo de um amigo, um colega de trabalho. Os chatos são bem intencionados,
não se pode negar. E é justamente essa boa intenção fora da medida que faz
deles uns chatos. O chato nada mais é que um exagerado. Ele é prestativo
demais, ele é piadista demais, ele leva muito tempo para contar algo que lhe
aconteceu, ele fica hooooras no telefone, ele se leva a sério além do razoável,
ele ocupa o tempo dos outros com histórias que não são interessantes. O chato
é, basicamente, um cara (ou uma mulher) sem timing.
Estava pensando nisso quando escutei alguém citando
uma das coisas mais chatas que existe. Tive que concordar: colocar um filho
pequeno no telefone para falar com a dinda, com a vovó, com o titio, é muito
chato. A gente ama aquela criança - talvez seja até o nosso filho! - mas ao
telefone, esquece. Tentamos entabular um diálogo minimamente inteligível e nada
rola. Ou ele não fala nada que se compreenda, ou não abre o bico, e só nos
resta ficar idiotizados do outro lado da linha.
Todo mundo sabe que isso é chato. Mas todo mundo que
já teve um filho cometeu essa mesma chatice com os outros. Por quê? Porque pai
e mãe de primeira viagem são chatos por natureza. Ninguém escapa. Se não for
chato, será considerado um sem-coração. Todos irão apontar: olha lá, aquele ali
esconde o filho. Põe ele no telefone!
Outra chatice é mostrar 3.487 fotos do bebê. Dá nos
nervos quando o filho não é nosso. Todos os bebês são iguais, menos para seus
pais. Seja bem sincero: dá pra aguentar ver foto de bebê pelo celular? Basta
perguntar educadamente pra alguém: e seu filhinho, vai bem? Pronto. Num segundo
o celular ou iPhone será sacado e apontado direto para seus olhos: veja você
mesmo.
A gente sabe que é chato, mas toleramos com sorrisos
parcialmente sinceros porque faremos a mesma coisa quando chegar a nossa vez -
ou já fizemos um dia. Se você passou dessa fase, segure a onda e compreenda os
que ainda não passaram. Nada de reclamar. Aqui se faz aqui se paga.
Outras chatices? Quando alguém pergunta: lembra de
mim? Se está perguntando, é porque a chance é remota. Mas já não fizemos isso
diante de alguém que gostaríamos muuuuito que lembrasse? E esticar as letras
das palavras quando se está escrevendo? E quando a gente começa uma frase com
"adivinha". Adivinha pra onde eu vou nas próximas férias. Adivinha
quem me convidou pra jantar. Adivinha com quem eu sonhei hoje.
Falando em sonho, tem coisa mais chata do que ouvir o
sonho dos outros? Mas você já contou os seus. Váááárias vezes. Agora adivinha
qual o próximo exemplo que vou dar (kkkkk).
Precisamos mesmo colocar risadas entre parênteses para que os outros
entendam nossas piadinhas cretinas?
Alguns menos, outros mais, chatos somos todos.
Martha Medeiros
25 de outubro de 2009
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