Um dia,
durante uma conversa, me fizeram uma pergunta:
_ O que
de importante você fez na vida?
A
resposta me veio à mente na hora, mas não foi a que respondi, pois as
circunstâncias não eram apropriadas. No papel de principal executivo da empresa
onde trabalho, sabia que os assistentes queriam escutar anedotas sobre o meu
trabalho.
Então,
tirei lá das profundezas das minhas recordações, a narração da seguinte
história:
O mais
importante que fiz na minha vida ocorreu há poucos anos depois de formado.
Numa
linda manhã resolvi pescar em um “pesque-e-pague” com um amigo que há muito não
o via.
Conversávamos
a respeito do que acontecia nas nossas vidas.
Ele me
contava que sua esposa e ele acabavam de “ganhar” um bebê.
Passava
já um bom tempo quando chegou o pai do meu amigo que, consternado, lhe disse
que seu bebê parou de respirar e que foi levado para a Santa Casa com urgência.
No mesmo instante, meu amigo subiu no carro do seu pai e se foi. Por um momento
fiquei onde estava, sem pensar e imóvel, mas logo tratei de pensar no que
deveria fazer:
_
Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença, disse a mim mesmo, de nada
serviria, pois a criança certamente está sob cuidados de médicos, e
paramédicos, e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação.
_
Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa vinham de
famílias numerosas e sem dúvida estariam rodeados de amigos e familiares que
lhes ofereceriam apoio e conforto necessários, acontecesse o que acontecesse. A
única coisa que eu faria indo até lá, era atrapalhar.
Decidi
que mais tarde iria ver o meu amigo. Quando dei a partida no meu carro, percebi
que o meu amigo havia deixado o seu carro, todo aberto.
Fechei
o seu carro e aí, então, parti até o hospital para entregar-lhe as chaves.
Como
imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os consolavam.
Entrei sem fazer ruído e fiquei junto à porta pensando o que deveria fazer. Não
demorou muito e surgiu o doutor Branquinho, médico e velho amigo, que se
aproximou do casal e, em voz baixa, comunicou o falecimento do bebê.
Durante
alguns instantes que ficaram abraçados - a mim pareceu uma eternidade -
choravam enquanto todos os demais ficaram ao redor daquele silêncio de dor.
A mãe,
ao notar a minha presença, correu para me abraçar e começou a chorar. Meu amigo
também se refugiou em meus braços e me disse:
_ Muito
obrigado por estar aqui!
Doutor
Branquinho lhes perguntou se desejariam ficar alguns instantes com a criança.
Durante horas fiquei sentado na sala de emergência do hospital, vendo meu amigo
e sua esposa despedindo-se daquele lindo presente, que mal chegaram a
“usufruir”.
Isso
foi a coisa mais importante que me aconteceu e acabou mudando a minha vida.
Aquela
experiência me deixou três lições:
Primeira:
ela ocorreu quando aparentemente não havia absolutamente nada, mas nada que
pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem nos anos em que
exerci a minha profissão, nem tampouco a energia racional que utilizei para
analisar a situação e decidir o que fazer, me serviu para aquela circunstância.
Segunda:
estava convencido que o mais importante que já fiz na vida esteve a ponto de
não ocorrer, devido às coisas que aprendi na universidade - conceitos racionais
que aplicava na vida pessoal assim como na profissional. Ao aprender a pensar,
quase me esqueci de Sentir. Hoje, não tenho dúvida alguma que devia ter subido
naquele carro sem vacilar e acompanhar o meu amigo à Santa Casa.
Terceira:
aprendi que a vida pode mudar num instante. Intelectualmente sabia disso mas
acreditava que os infortúnios acontecem somente com os outros assim fazia os
meus planos e imaginavam o futuro como algo tão perfeito e real como se não
houvesse espaço para acidentes mas ao acordar de manhã percebi que perderam emprego
sofrer uma doença ou cruzar com o motorista embriagado são acidentes que podem
alterar este projeto chamado futuro em Um piscar de olhos desde aquele dia
busquei o equilíbrio entre o trabalho e a sua vida aprendi que nenhum emprego
por mais gratificante que seja compensa trabalhar até mais tarde perder férias
romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família aprendi que o
mais importante da vida não é ganhar dinheiro endeusar-me numa carreira,
aparentar-me fisicamente atraente, e nem ascender-me socialmente. O mais
importante da vida é ter tempo para utilizar todos os conhecimentos adquiridos
no sentido de promover o bem-estar do próximo.
Adaptação de Aulus Di Toam
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