Acordamos cedo. Bem cedo. Mais cedo do que eu costumo
acordar para ir trabalhar. Mas para passear ninguém reclama. Eu menos
ainda.rsrs
Não tinha nem clareado e todos estavam fazendo os
últimos ajustes nas bagagens das motos. Às 6h45min o Everson começou o briefing. Em seguida o Zé tirou uma foto do grupo.
O Everson pediu para o Zé sair primeiro - do estacionamento - com a van e segurar o trânsito até todas as motos saírem. Feito isso começamos a viagem - sair da cidade. Para podermos acompanhar o grupo eu gravei na memória a cor do capacete e a roupa do Alexandre, que é o último
motociclista.
Começou a chegar perto da Alfândega, eu comecei a
ficar nervosa. Mesmo sabendo que dessa vez o Zé ia falar para onde realmente
estávamos indo.
Na Alfândega funciona assim: Chegando à cabine o
Everson desce da moto, tira o capacete, entrega os documentos (passaporte,
carta verde e documento da moto) e fala para o atendente que estamos indo para
o Deserto do Atacama. Depois dele vão passando um a um. As garupas tem que
descer da moto. Todos devem tirar o capacete e entregar os documentos,
inclusive das garupas. Após passar a cabine abrem os baús das motos para os
agentes federais revistarem. Conforme iam sendo liberados os motociclistas
pararam uns metros adiante (em um lugar que não atrapalhava a circulação dos
carros) e esperavam, até que o grupo todo se reunir.
Na nossa vez, a agente pediu para o Zé abrir a porta
traseira da van e foram para lá. Eu fiquei sentada quietinha. Aliás, acho que
nem conseguia me mover, tamanho o nervoso. Não demorou, o Zé entrou e, pelo
rádio falou para o Everson que a agente queria ver a nota fiscal dos baús. O
Everson que estava lá na frente, falou para o Zé que era para ter falado que
eram peças sobressalentes para as motos. Que não eram novas. Só que os baús estavam
na caixa. E as peças - canos, parafusos (e sei lá mais o quê) que seria usado
para acoplar os baús estavam embalados. E ela encasquetou que eram novas e
queria ver a nota fiscal.
Vi o Everson voltando e indo para trás da van.
Ficaram ali por um tempo. Depois vi o Everson passando e indo em direção do
grupo. Ouvi as portas fechando e o Zé voltou. Ele disse que a agente não queria
liberar de jeito nenhum. Mas, com a conversa do Everson e outro agente mandando
liberar, ela acabou liberando. Muito brava, segundo o Zé, mas liberou.
O Zé encostou a van atrás do grupo. O Everson chegou,
subiu na moto e o grupo começou a sair.
Nisso eu me lembrei de uma mensagem que o Everson mandou ontem para o Zé
que dizia: Temos que pegar uma encomenda na recepção do hotel, para levar para
a dona do hotel de San Pedro de Atacama.
Então perguntei para o Zé se ele tinha pegado a tal encomenda. Ele disse
que não e passou o rádio para o Everson perguntando se ele pegou. O Everson
disse que não, e devolveu a pergunta para o Zé:_Mas você não pegou? Resultado: O
Everson mandou a gente voltar ao hotel para pegar. E orientou o Zé desembalar
as peças (que a agente tinha implicado). Eu simplesmente apavorei. Não
acreditei que ia ter que passar novamente pela Alfândega. E agora sem o
Everson, pois, ele mandou a gente voltar e seguiu com o grupo.
Voltamos... Eu nem queria falar muito. O Zé dizendo
que a culpa não era dele de ter esquecido. Que o Everson tinha ido deixar
coisas na van várias vezes, então o Zé achou que ele podia ter pegado. Dos
males o menor. Pelo menos lembramos. Pior seria chegar em San Pedro sem as
encomendas. Isso porque dentro da van
tem pacotes de café e pão de queijo que o Everson leva para essa mulher.
O Zé parou a van na frente do hotel e foi buscar as
encomendas, Eu fiquei esperando dentro da van. Então o Zé entrou e comentou que
eram duas caixas e dois baldes (transparentes) com rosquinhas (provavelmente
caseiras). Isso porque não pode entrar com nada que não seja industrializado na
Argentina e no Chile. Eu quis ir olhar. Vi que o Zé tinha colocado logo que
abre a porta, então falei para colocar no fundo, ao lado das caixas com o café
e o pão de queijo. Seguimos...
Quando estávamos nos aproximando da Alfândega, o
dilema. Entramos na mesma fila, para passar com a mesma agente? Ou vamos para
outra fila? Se entrarmos em outra fila e ela nos ver, pode achar estranho e
querer saber por que voltamos, e poderia supor que passamos em outra fila para
escapar dela. Se passarmos com ela novamente ela pode, dessa vez não deixar
passar as caixas - com os baús dentro. Eu falei para o Zé. Vamos entregar nas
mãos de Deus! Que ele nos conduza. E entramos na fila menor. Eu nem olhava para
os lados. Meus olhos iam denunciar meu nervoso. Fiquei ali rezando.
Era um agente. O Zé desceu e ouvi abrindo as portas
traseiras e depois a lateral. Minutos depois ouvi fechando as portas. O Zé
entrou, ligou a van e saímos dali mais que depressa. Então ele falou: _Você viu
o tamanho do cachorro? Eu disse que não! Mal sabia ele que eu nem me mexi
dentro da van. A nossa sorte foi que a revista foi com cão farejador. O Zé
abriu as portas e ele entrou na van atrás e na parte atrás de mim. Por isso foi
rapidinho e não implicaram com tudo o que tinha dentro da van.
O Zé tentou mandar mensagem para o Everson dizendo
que tínhamos passado e não tinha mais sinal. Quando pegamos a estrada, começou
a chuva. Que foi aumentando. Aumentando. Tinha pontos que mal dava para
enxergar. A gente de olho para ver se não tinha moto parada. Eu ficava pensando
nos motociclistas. Nas garupas. Se eu estava tensa dentro da van, imaginem elas
na moto. Pensei também que como van de apoio, na hora que elas estavam
precisando de nós, estávamos muito longe. Porque com certeza alguma delas ia
querer vir na van.
O Zé tem um roteiro com os postos que eles param para
abastecer. Geralmente entre 150 a 200 quilômetros. No primeiro posto o
frentista falou que o grupo tinha saído fazia (+/-) 20 minutos. Eu estava
preocupada porque na segunda parada tinha uma encomenda - que estava na van - que
alguém ia pegar. Ou seja, a gente tinha que encontrar o grupo na segunda
parada.
Chegamos praticamente com eles. Percebi que estavam
todos tensos. A mulherada mais ainda. E muitas estavam molhadas. Compreensível.
Eu estava envergonhada por não estar por perto no momento que elas precisaram.
Almoçamos ali. A comida estava horrível. Eu peguei um
pouco de arroz frio e purê de batata. Na verdade nem queria comer. Minha cabeça
estava doendo, tamanha a tensão das últimas horas.
Quanto a paisagem, o Zé já tinha avisado que nesse
primeiro trecho/dia não tinha atrativo nenhum. Que a região é bastante pobre.
Que nos postos, os banheiros não são dos melhores. Até a segunda parada não deu
para ver muita coisa porque a chuva não permitiu. Depois o tempo melhorou, e
foi bom porque deu para apreciar a ponte na Província de Corrientes. Não só
ela, como a prainha embaixo. O rio Paraná.
Fora a chuva, nada aconteceu com as motos. O Zé disse que o Everson
procura sempre chegar antes das 17h nas cidades. Isso porque na Argentina é
tradição o comércio fechar às 13h e reabrir às 17h. Devido a chuva, o Everson
teve que reduzir um pouco a velocidade. Para o Zé ele falou que reduziu para dar tempo
de nós alcançarmos o grupo. Saber disso só serviu para deixar a gente (pelo menos eu) com sentimento de culpa. Enfim, essa redução na velocidade fez com que chegássemos em
Roque Saeñs Pena muito depois das 17h. Na verdade passava das 19h. Estava
começando a escurecer. Pegamos um trânsito muito doido. Sabe aqueles vídeos que
a gente vê do transito na Índia? Parecido.
Muitos carros (velhos), motos, bicicletas e pessoas. Uma bagunça. Muito barulho. Pelo menos no trecho que percorremos, achei a
cidade mal cuidada. Parece bem pobre. Essa foi a minha impressão.
Mas ainda bem que não circulamos muito dentro da cidade para chegar no
hotel. Se eu não via a hora de tomar um banho e relaxar, imagine o pessoal da
moto.
O Zé parou a van na rua, em frente ao hotel. Até tirarmos as malas,
máquina fotográfica, rádios, quando chegamos na recepção o Everson já tinha
entregado a chave do quarto de todos. Pegamos a nossa e fomos para o
quarto. Tomamos um banho e já descemos.
Estamos hospedados no Hotel Atrium Gualok, quarto 519. A recepção é muito luxuosa.
Aliás, todo o hotel é um luxo! Se bem que ouvi uns dois do grupo reclamando.
Vi a piscina. O bar. O salão que fica ao lado da recepção. O hotel é bem
grande. Mas eu nem queria andar muito. Queria comer. Então fomos ao restaurante
do hotel.
O pessoal já estava lá. Eu e o Zé sentamos em uma
mesa, sozinhos, em um cantinho. Eu pedi lasanha. Que estava muito saborosa. Os pãezinhos
que eles serviram antes, além de quentinhos, estavam deliciosos. Pensei em tomar vinho. Experimentei três tipos,
mas não gostei de nenhum. Então bebemos água saborizada.
Hoje foi o trecho mais longo da viagem, aproximadamente 800 quilômetros até aqui. Mais da metade dele com chuva. Por isso o cansaço. E amanhã sairemos à 8h,
então o melhor a fazer é dormir.
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