Que cheiro bom.
É cheiro de goiaba.
Todo dia tem um
tantão delas caídas no chão, estão esmagadas. Ou pela queda. Ou pelos pneus dos
carros. E são goiabas vermelhas.
Inacreditável
que elas cheguem a cair. Vejo as ali, exalando aquele cheirinho bom e me
pergunto: _Será que os moradores de rua não gostam de goiaba?... Porque se
gostassem elas nem chegariam a cair do pé. Eles as colheriam. Não é verdade?
E o pé está ali,
na calçada, onde ninguém é dono. Pelo menos é o que parece. Se eu gostasse de
goiaba talvez arriscasse esticar a mão e colher uma do pé.
É, mas eu não
gosto de goiaba. Não mais. Comi muito quando era pequena. Está certo que não
eram vermelhas. Subia no pé e ficava ali comendo. Minha mãe dizia: _Desce desse
pé e pára de comer menina. Vai ficar entupida de tanto comer. Devo ter ficado.rss
Hoje, mais uma
vez a cena se repetiu. Senti o cheiro das goiabas. Vi-as ali no chão. O que
mudou no cenário foi que quis olhar para o pé de goiaba. Pensei que não devia
ter mais frutos, de tanto que caem. E para minha surpresa, o pé está abarrotado
delas.
E a goiabeira está ali... No meio do caminho. No meio do vai e vem das pessoas. Algumas precisam até
mesmo desviar dela. Não é possível que não percebam aquele pé de goiaba,
vermelha, bonita e cheirosa. De duas, uma. Ou ninguém gosta de goiaba. Ou as pessoas ficam com receio – talvez vergonha
de colher uma do pé. Não deveria. Acho que ela está só esperando isso.
Ah, se a goiabeira pudesse falar. _Acho que diria. _Ei, vocês! Olhem para mim. Estou aqui, cheia de frutos. Podem pegar. É, mas ela não fala. Então não resta outra opção para as pobres goiabas senão a de se atirarem ao chão. Triste fim.
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