sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Tranquilidade


Um rato da cidade ia passeando e encontrou outro que habitava no campo, que o convidou entrar na sua toca. Ofereceu-lhe bolotas, favas e cevada; comeram com a maior alegria.

Por sua vez, o rato da cidade convidou o do campo a ir aos seus domínios. Quando se encontravam juntos na bela despensa de um palácio, o da cidade disse:
_ Meu amigo, pode comer o que lhe apetecer, pois as provisões são abundantes e variadas cá nestes lugares onde eu habito.

Estavam saboreando as mais apetitosas as carnes quando, de repente, a porta da despensa se abriu e entrou o cozinheiro. Os ratos assustaram-se, cada um fugindo para seu lado. Como o da casa conhecia todos os cantos, pôs-se logo a salvo, enquanto o forasteiro não encontrava esconderijo algum. Assim que cozinheiro desapareceu, saíram de novo os ratos, e o da cidade disse ao do campo.

_ Venha cá; vamos comer; olha que abundantes víveres.

_ É tudo muito bom - respondeu o do campo -, mas dize-me: é muito frequente aqui este perigo?

_ Sim - respondeu o outro. - Isso acontece a todo momento, por isso mesmo não devemos dar importância.

_ Ah! - espantou-se o do campo - então isto acontece todos os dias?

Na verdade, você vive num meio de grande opulência, mas eu prefiro a tranquilidade da minha pobreza ao alvoroço da tua abundância.

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