Em algum dia, de algum mês do ano de 2011 eu conheci
a dona Odete e o Sr.Olympio – meus sogros.
Se não estou enganada, a primeira vez foi no
Restaurante Villani, que fica no Taquaral. De cara conheci meus sogros, a Simone (irmã do Zé) e a Paola (sobrinha). Não lembro se a Adriana também estava presente
naquele dia.
Restaurante não é um lugar onde você conhece as
pessoas mais intimamente. Só superficialmente. Não tive primeiras impressões de
nenhum deles. Sabia por cima sobre cada um, pelo o que o Zé me falou.
Depois desse dia (almoço) fui à casa dos pais do Zé.
Gostei deles. E senti que eles também gostaram de mim.
Aos poucos, durante os últimos oito anos fui
conhecendo a dona Odete...
Ela nasceu no dia 25 de Março de 1929, na cidade de
Leme, estado de São Paulo. Filha de João Miningroni e Virginia Amêndola
Miningroni, recebeu o nome de Odete Amêndola Miningroni. Teve cinco irmãos - tia
landa, tia Celina, tia Neide, tio Vadico e tio Delei. Eu conheci a tia Neide
que faleceu alguns anos atrás. De todos ficou o tio Delei. Ela não era muito de falar da família. E quando falava era mais sobre o pai. Ela contava algum episódio e chorava de emoção.
Dona Odete trabalhou na livraria João Amêndola. Ela
falava muito orgulhosa desse tempo. E foi nessa época que ela conheceu o
sr.Olympio Linares Castanho. Casou-se com ele no dia 08 de Janeiro de 1955 e
teve três filhos. José Olimpio, Simone e Adriana. Desde o casamento até
sexta-feira ela sempre morou na mesma rua, no bairro Taquaral.
Dona Odete era uma mulher bastante vaidosa. Toda
sexta feira ia na Zezé enrolar o cabelo e fazer a unha.
Ela tinha empregada, a Luzia. Sua fiel escudeira. Ela confiava e gostava muito da Luzia. Tinha-a como filha. A Luzia me disse que foram mais de 40 anos trabalhando para a dona Odete. Com a empregada cuidando da casa, dona Odete ficava na cozinha. Ela gostava de cozinhar. Fiquei sabendo que ela “fazia” um bolinho de carne e um bolo de morango, que não tinha igual. Não sei se porque ela parou de fazer. Se não tinha mais vontade, ou por cansar de ficar muito tempo mexendo na cozinha.
Ela tinha empregada, a Luzia. Sua fiel escudeira. Ela confiava e gostava muito da Luzia. Tinha-a como filha. A Luzia me disse que foram mais de 40 anos trabalhando para a dona Odete. Com a empregada cuidando da casa, dona Odete ficava na cozinha. Ela gostava de cozinhar. Fiquei sabendo que ela “fazia” um bolinho de carne e um bolo de morango, que não tinha igual. Não sei se porque ela parou de fazer. Se não tinha mais vontade, ou por cansar de ficar muito tempo mexendo na cozinha.
Dona Odete gostava muito de plantas e flores. Gostava
e tinha mão para isso. Uma atividade que ela curtia fazer. Quantas vezes ela me
mostrava a roseira na frente da casa, cheia de orgulho. Tinha também a
samambaia que ficava na sala. Ela falava pra mim: É de verdade! Porque às vezes
eu não acreditava. Até ia pegar na folhagem para constatar.rsrs
Ela não ouvia música, mas assistia televisão,
principalmente novelas. E muitas vezes eu a via assistindo vôlei e futebol.
Acho que gostava. Acho isso porque ela comentava sobre o que estava assistindo.
Falava até o nome dos jogadores.
Os problemas de saúde: Quando eu a conheci, sabia que
ela tinha tido um derrame alguns anos antes. E por consequência ela tinha um
pouco de dificuldade para engolir alimentos, e para falar. Mas isso era quase
imperceptível. Não caminhava com muita destreza. O Zé disse que o médico, na
época falou que ela teria que fazer exercício físico. Tanto que ela tinha uma
bicicleta ergométrica. Mas ela não gostava.
Poucas vezes vi a dona Odete doente. Com gripe ou
tosse. O problema dela era cair. Isso aconteceu várias vezes. Em março de 2013
ao cair, bateu o ombro e fraturou a mão. Em Julho do mesmo ano caiu e quebrou o
fêmur. Em 2015 foi parar no hospital porque caiu e bateu a cabeça. Aliás, a
cabeça ela bateu várias vezes.
Enfim, a cada tombo ela foi ficando mais debilitada. Depois
que o Sr.Olympio foi para a clínica, ela passou a ter uma cuidadora para dormir
durante a semana e os finais de semana eram revezados entre os filhos e a
cuidadora. A dona Odete se afeiçoou muito com a Rosa que inclusive é
enfermeira. Além dela, quem ficou mais tempo foi a Fatima. Mas, pela casa da
dona Odete passaram outras.
A dona Odete ficava muito brava com a presença de
outras pessoas na casa dela. Isso a incomodava. Ela reclamava bastante. Mas eu
falava para ela que era necessário. Que não tinha mais jeito. Que criança e
idoso não pode ficar sozinho. O incômodo era tanto que ela chegava a guardar
tão bem os alimentos – que a gente tinha a impressão que ela queria mesmo era
esconder. Isso porque ela dizia que elas comiam tudo. Cheguei a vê-la esconder
sabonete, desodorante. Ela também ficava muito brava quando via que a gente
(mais o Zé) ficava explicando para as cuidadoras os horários dos medicamentos.
Ou alguma outra orientação. Isso a incomodava porque ela queria estar a par de
tudo. Ter o domínio da situação.
Nos últimos tempos ela estava sob os cuidados de uma fisioterapeuta e uma
fonoaudióloga, que iam uma vez por semana cuidar dela. Como a Luzia tinha que
ficar de olho nela, pois ela insistiu até o fim de não usar bengala,
contrataram a Marilda (que eu não conheci) que fazia limpeza e cozinhava. Como a dona Odete já não ia mais no salão, a Zezé e a filha Renata passaram a ir na casa dela para arrumar o cabelo e fazer a unha. A Zezé faleceu no dia 21 de Dezembro de 2018. Não sei se a dona Odete não percebeu, ou se ela já estava se desconectando das pessoas, porque, pelo que eu sei ela não perguntou mais da Zezé.
De vez em quando, eu e o Zé levávamos a dona Odete
para visitar o Sr.Olympio. O último dia foi 23 de dezembro. Depois daquele dia,
ela desabou. Isso porque ele não a reconheceu. Não deu atenção para ela. E ela
teve tanta dificuldade que tivemos que levar ela da entrada da clínica até o
quarto dele na cadeira de rodas.
Começou a não querer comer. Tinha dias que não queria
sair da cama. Já não ficava na cozinha arrumando uma salada (como gostava de
fazer) ou depois do almoço guardando as comidas em recipientes e colocando na
geladeira. Não assistia mais televisão. E o pior... Não conseguia mais terminar
frases. Isso a deixava muito triste e chateada.
Foi se desligando dos bens materiais: roupas,
calçados, utensílios domésticos. Até a vaidade ficou de lado. Um dia eu vi a unha dela feita e falei que estava bonita. Ela deu de ombros e falou mais ou menos essas palavras: Não sei pra que ficar fazendo unha. Enfim... Ela já não ligava para mais nada. Não se
incomodava com mais nada. Não reclamava mais de nada. No fim ela só agradecia. No sábado que ficávamos com ela, ao ir embora, a gente se despedia... Ela agradecia emocionada por termos ficado com ela.
Ela completou 90 anos no dia 25 de março. A Simone e
a Adriana resolveram uns dias antes fazer uma festa. Fecharam de fazer no
Domingo, dia 24. Como eu e o Zé já estávamos com compromisso, fomos vê-la no
dia 25. Ela estava bem feliz. Falou sobre o dia anterior.
No sábado, 06 de abril a Rosa levou ela para o
hospital porque ela não quis tomar café e não tinha jantado na sexta. Após
vários exames o que preocupou foi uma mancha no pulmão. O médico falou para o
Zé que ela estava com água no pulmão. A levamos para casa, fizemos a inalação e
demos o antibiótico. Ela ficou com a Fátima que daria continuidade na medicação
e cuidados. Os irmãos decidiram chamar o médico dela para ir na casa avaliar o
quadro. Ele foi na quarta-feira. Falou que ela tinha tido um derrame pulmonar.
Que ela estava morrendo. Falou para suspender a fonoaudióloga. E se ela não
quisesse beber água, comer, sair da cama... Não era para insistir. Falou que se
ela fosse para o hospital que não voltaria mais para casa.
Na sexta-feira a Adriana mandou mensagem. Disse que
estavam fazendo inalação na dona Odete, mas ela estava com muita dor e os
batimentos cardíacos estavam fora do normal. Levaram-na para o hospital. O
hospital estava lotado, conseguiram leito para ela somente na noite de sexta.
Como o Zé ia sair no Domingo bem cedinho para começar
a viagem da “Expedição Peru”, no sábado fomos resolver um monte de coisas. E a
tarde nós fomos ver a dona Odete. Ela estava deitada de lado. Soro na veia. Oxigênio
no nariz. Estava sendo medicada com morfina. Estava dormindo. Um sono agitado.
Eu sentei no braço da poltrona e coloquei a mão na testa dela. Comecei a rezar:
Pai Nosso... Ave Maria... Ela ficou bem agitada. Parecia que queria falar
alguma coisa. Falei que a gente ia ficar bem. Que ela tinha que descansar.
Comecei a chorar...
Saí do quarto e o Zé sentou... Quando voltei ele
falou que fez oração para ela e sentiu que ela começou a diminuir a respiração.
Ele disse que achou que ela ia morrer naquele instante.
Ela ficou agitada novamente... Mexia muito a cabeça.
O Zé disse que eram delírios. Eu tinha a impressão que ela queria falar alguma
coisa.
O Zé despediu dela e falou: Tchau mãe, a gente se vê... Em
outra vida. E acho que ele chorou...
Saímos do quarto com o choro entalado na garganta.
Você não quer ver a pessoa sofrendo, mas a despedida é muito triste.
Acordamos pouco antes das 5h com o celular tocando.
Era a Adriana... Dona Odete faleceu.
Tia, esse texto foi se uma sensibilidade tão grande que até chorei.
ResponderExcluirMas por fim, agora a dona Odete descansou. Como o Zé disse: o encontro vai ser em outra vida...
Muita luz e força para a família passar por esse momento.
Oi Dessa... Chorou? História um pouco triste né?
ExcluirSabe... Ter convivido esses anos com a dona Odete me fez (e ainda faz) refletir muito.
Obrigada pelo comentário!