Sabe aquele dia que você acorda
super-baixo astral?
Hoje acordei assim.
Tenho motivos? Aparentemente... Que
eu saiba... Não.
Vou tentar me recompor até o fim do
dia.
Enquanto isso...
... Encontrei esse poema, estava
engavetado. Sabia que um dia iria utilizar.
Bom, não estou assim pelos mesmos
motivos, porém o que sinto, é o mesmo... Um estranhíssimo cansaço!
“O QUE HÁ”
O que há em mim é sobretudo cansaço
—
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa
nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em
alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas
eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o
impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
—
Três tipos de idealistas, e eu
nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o
finito,
Porque eu desejo impossivelmente o
possível,
Porque quero tudo, ou um pouco
mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou
vivido,
Para eles a média entre tudo e
nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo,
cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in
"Poemas"
Heterônimo de Fernando Pessoa
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