Ontem a cidade de Campinas foi palco de uma passeata que teve a adesão de milhares de pessoas. Eram pessoas de todas as idades, a maioria estudantes. Minha filha, sobrinho, enteado, amigas de trabalho estavam entre eles. Acabamos sendo liberados mais cedo do trabalho. Conforme fui subindo em direção à minha casa, passei por alguns grupos de jovens. Eles desciam em direção ao Largo do Rosário (ponto de encontro dos manifestantes), todos estavam muito animados, com seus cartazes nas mãos, alguns vestindo camiseta branca. A euforia tomava conta deles. Motoristas que passavam por eles buzinavam em sinal de apoio. Cheguei a ficar arrepiada de emoção. Passava por eles, sentia um orgulho. Queria poder aplaudir... A vontade foi grande. Boba eu.rss Confesso que deu até vontade de dar meia volta e partir com eles para protestar. Mas não o fiz por vários motivos... Um deles é não ter "um" objetivo. E sim vários. Sei que todo mundo tem insatisfações, e isto está claro quando lemos os cartazes. Eu também tenho as minhas mas nesse momento... Sem um objetivo específico fica difícil lutar. Quando é assim, como saber quando ele foi alcançado? Outro motivo é o fato não existir um líder. Como vai ser... Vou sair para a rua e ficar caminhando sem rumo? Ah, isso não é pra mim. Se for necessário vou à luta desde que tenha objetivos claros com uma meta definida. Do jeito que está sendo fica difícil. Ontem os manifestantes caminharam e pararam em frente ao prédio da prefeitura. Agora pergunto: _ Foram fazer o que ali? O prefeito com certeza não estava lá dentro. Não estou dizendo que sou contra, nada disso, só que do jeito que está sendo... Vira bagunça. E virou. Vivi a época dos “caras-pintadas” que ocasionou no Impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Lembro que houve manifestação por todo o país, como está acontecendo agora, porém existia um objetivo claro. E ele foi alcançado. Mas, e agora... Quando tudo isso vai parar? Diante de tudo isso, tenho que concordar e assinar embaixo dos diversos textos que tenho lido em um ou outro blog de jornalistas, pessoas que tem um pouco mais de instrução do que eu, ou seja... Falam com propriedade. Eles apesar da admiração por essa “luta” do povo brasileiro, também não sabem para que rumo isto tudo está caminhando. Transcrevi abaixo alguns trechos dessas matérias:
“A desorganização dos protestos – em São Paulo, a multidão se dividiu em duas; em Brasília, ninguém parecia saber o que fazer no teto do Congresso – deixou claro que os atos não estavam sendo “coordenados” com uma agenda pré-definida ou liderados por ninguém. Melhor assim.
O “tema” dos protestos – o aumento das passagens – já ficou para trás. Os 20 centavos no bilhete foram o estopim de algo muito maior. Quem sabe, acordamos hoje para o fato de que nem tudo aqui precisa terminar em pizza.
Era até engraçado ler os cartazes dos manifestantes: uns reclamavam das passagens de ônibus caras, outros da qualidade da educação ou da saúde, muitos protestavam contra a Copa do Mundo e a submissão do Brasil à Fifa. Lembrou um velho quadro do Monty Python, em que protestantes marcavam uma reunião para marcar outra reunião para definir a data da reunião “definitiva”.
Acho normal. Há tanta coisa digna de reclamação no país, que é natural que ninguém saiba ao certo para que lado atirar primeiro.”
“Em Brasília, manifestantes apedrejaram e tentaram invadir o Itamaraty. Foi a cena mais tensa da semana. Em determinado momento, tentaram até incendiar a entrada do prédio. No Rio, houve confrontos com a polícia. Algumas pessoas atacaram o Terreirão do Samba, um espaço cultural conhecido da cidade. O que o coitado do samba fez para ser atacado dessa maneira, ninguém sabe. Tudo que sabemos é que ninguém sabe de nada. Nas ruas, os protestos abrangem todos os temas. Um amigo disse ter visto, no Rio, alguém – certamente torcedor do meu time, o Fluminense – carregando uma faixa: “Volta, Conca!” Não é fácil viver no Brasil: corrupção, mau uso de dinheiro público, gastos exorbitantes com Copa do Mundo, educação e saúde deficientes. A lista de queixas é imensa. Mas, se for algum consolo para os manifestantes, duvido que hoje algum deles queria estar na pele dos governantes. Se você é prefeito ou governador e quer tentar estabelecer um diálogo, com quem fala? Como dialogar com um movimento sem face? As manifestações que se espalharam como fogo pelo Brasil são inéditas porque não têm uma cara. Não há um líder, uma figura que sirva de referência, um “cabeça”. Há vários movimentos independentes, mas, com a enorme variedade de temas dos protestos, ninguém “representa” – só para usar um termo muito em voga – sua totalidade.”
André Barcinski - crítico da Folha de S.Paulo
O trecho abaixo é do blog “para entender Direito” também da Folha de S.Paulo
"Dezenas de milhares de pessoas saíram do conforto de seus lares e tomaram as ruas nos últimos dias, como poucas vezes se viu na história do país. Mas, ao contrário de protestos como o pelas eleições diretas na década de 1980 e os pelo impeachment do então presidente Collor na década de 1990, não se sabe bem pelo que protestam.
Ao que tudo indica, não é pelo transporte público (ou coletivo) gratuito, que era a reivindicação inicial, quando os números de manifestantes eram significativamente menores. Tampouco parece ser apenas pela melhoria do transporte coletivo (muitos dos que estavam nas manifestações de ontem sequer usam – e talvez jamais tenham usado ou venham a usar – tal transporte).
A julgar apenas pelos cartazes, poderíamos dizer que é contra um político ou algum partido político. Mas contra qual, se todos os grandes partidos foram citados de forma pejorativa e as manifestações ocorreramem cidades e Estados governados pelas mais diversas facções políticas?
O problema de se ter uma manifestação sem um objetivo claro é que não se saberá quando o objetivo foi alcançado. Se não sabemos quando o objetivo foi alcançado, continuamos a protestar. É o protesto contra tudo e a favor de nada. É o protesto sem sentido."
Ao que tudo indica, não é pelo transporte público (ou coletivo) gratuito, que era a reivindicação inicial, quando os números de manifestantes eram significativamente menores. Tampouco parece ser apenas pela melhoria do transporte coletivo (muitos dos que estavam nas manifestações de ontem sequer usam – e talvez jamais tenham usado ou venham a usar – tal transporte).
A julgar apenas pelos cartazes, poderíamos dizer que é contra um político ou algum partido político. Mas contra qual, se todos os grandes partidos foram citados de forma pejorativa e as manifestações ocorreram
O problema de se ter uma manifestação sem um objetivo claro é que não se saberá quando o objetivo foi alcançado. Se não sabemos quando o objetivo foi alcançado, continuamos a protestar. É o protesto contra tudo e a favor de nada. É o protesto sem sentido."
Hoje pela manhã, ao descer para o trabalho a cena era essa: alguns cartazes jogados pelo chão, vi também uma bandeira do Brasil chamuscada de fogo. Na TV a reportagem mostra as imagens de pessoas destruindo o que via pela frente. Tinha também aqueles que tentavam conter estas pessoas. Essas imagens estão se repetindo pelo país afora. Muito triste ver que pessoas mal intencionadas se aproveitam da situação para fazer bagunça, para destruir.
As pessoas que conheço que estiveram presentes nessa passeata disseram que quando o clima começou a ficar tenso se retiraram. Sei que já passava das 23h e os helicópteros sobrevoavam o centro (sei porque moro perto).
Enfim... Um dia depois não sei se os manifestantes conseguiram o que queriam. Se é que sabiam o que queriam. Também ninguém sabe se haverá um outro encontro, acredito que não. Com certeza, a maioria deve estar chateada por ver a destruição que foi gerada pelos mal elementos. Talvez também porque podem ter percebido que sem objetivo e sem roteiro... Ninguém chega a lugar algum.
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