Era uma vez um casal que tinha um filho chamado
Zezão.
O menino era forte e sadio, mas não gostava de ir à
escola e passava o tempo todo sonhando, só que acordado.
_ Zezão, com o que você está sonhando a uma hora
dessas? – perguntava-lhe a professora.
_ Estava pensando no que serei quando crescer –
respondia ele.
_ Seja paciente. Você terá muito tempo para pensar
nisso – dizia ela.
Mas Zezão tinha dificuldades para apreciar qualquer
coisa que estivesse fazendo no momento, e sonhava sempre com a próxima.
No inverno, sonhava com o clima quente da praia, e no
verão sonhava com a neve.
Na escola, torcia pelo fim da aula, e em casa,
sonhava com a vida fácil lá de fora.
Na cidade sonhava com o campo, e na montanha sonhava
com o céu.
Às vezes, deitava-se ao sol, com as mãos sob a
cabeça, e fitava o céu através dos galhos das árvores.
Uma tarde quente ouviu alguém chamando pelo seu nome.
Viu uma anciã em pé à sua frente. Ela trazia na mão
um relógio de pulso, igual ao de seu avô, do qual pendia um cordão dourado.
_ Olhe o que tenho aqui, Zezão – disse ela, oferecendo-lhe
o objeto.
_ O que é isso? – perguntou curioso, tocando o fino
cordão dourado.
_ É o cordão da sua vida, é mágico – retrucou a
mulher. Não toque nele e o tempo passará normalmente.
Mas se desejar que as coisas boas aconteçam, com o
tempo andando mais rápido, basta dar um leve puxão no cordão e as horas
passarão em fração de segundo. Mas devo avisá-lo: uma vez que o cordão tenha
sido puxado, ele não poderá voltar à posição anterior.
Mas se aceitar o meu presente, não conte esse nosso
segredo a ninguém, senão você ficará muito doente e não sobreviverá.
Zezão tomou-lhe das mãos aquele valioso presente, e
berrou, demonstrando enorme felicidade.
Era exatamente o que ele queria.
O menino colocou-o no bolso e foi correndo para casa.
No dia seguinte já na escola, Zezão imaginava o que
fazer com o seu relógio mágico.
A professora o repreendeu por não se concentrar nos
deveres. Zezão então deu um leve puxão no cordão e lá estava ele na frente de
sua casa.
Como a vida seria fácil agora! Todos os seus
problemas haviam terminado.
Dali em diante, passou a puxar o cordão, um pouquinho
todos os dias.
Entretanto, achou que era tolice puxar apenas um
pouquinho.
Se desse um puxão bem forte, o período escolar
estaria concluído de uma vez.
Naquela noite, deu um grande puxão no cordão e
acordou na manhã seguinte, atuando como modelo e manequim na cidade mais
importante do mundo.
Zezão adorou sua nova vida, desfilando para os
maiores costureiros, aparecendo como garoto propaganda das melhores grifes;
enfim estava fazendo o que tanto havia sonhado.
Ele não tinha tempo para mais nada.
Se tinha algo que o incomodava, lá ia ele puxar o
cordão, pois não tinha tempo para perder com algumas besteiras que poderiam
incomodá-lo.
Já estava rico, famoso e era fisicamente atraente, “o
sonho de criança havia sido alcançado”.
Agora o objetivo era o casamento.
Resolveu então puxar com mais força o cordão, até
encontrar a mulher mais linda do mundo, pois aquela seria a época mais
importante da sua vida.
No dia do casamento, todos estavam felizes, inclusive
sua avó materna e seus pais.
Olhando para sua mãe, notou-lhe os cabelos já
brancos, e sentiu-se mal por ter puxado tanto aquele cordão.
Alguns meses mais tarde sua esposa anunciou-lhe que
esperava um filho.
Mas ele não queria esperar tanto tempo para ver seu
filho, e quando ele nasceu, a cada vez que ele adoecia, ou chorava à noite, ele
puxava o cordão um pouquinho.
Notou que o cordão estava ficando prateado. Seu
cabelo começava a ficar grisalho e seu rosto apresentava rugas.
Sentiu medo.
Teve outros filhos e mantinha o relógio bem
escondido, resguardado dos olhos curiosos.
A casa foi ficando pequena, então ele resolveu
ampliá-la. E dá-lhe puxão no cordão.
Logo que seus pais faleceram ele percebeu que a vida
passara rápido.
Uma noite, sem conseguir dormir, achou que sua vida
seria melhor se seus filhos já estivessem crescidos e com carreiras
encaminhadas. Deu um forte puxão no cordão e logo todos os seus filhos estavam
crescidos e já não moravam mais com ele.
Seu cabelo estava todo branco e as pernas e costas
doíam. Sua esposa vivia doente.
Pegou então o relógio com o cordão mágico e levou um
susto.
Estava cinza, perdera o brilho.
Decidiu ir à floresta e embaixo de uma árvore decidiu
tirar um cochilo.
De repente, ouviu alguém chamando:
_ Zezão, Zezão!
_ Então, a sua vida foi boa? – perguntou a mulher que
encontrara anos antes, a mesma que lhe entregara o relógio mágico.
_ Não estou bem certo – disse ele – seu relógio é
maravilhoso. Jamais tive que suportar qualquer sofrimento, mas foi tudo muito
rápido.
_ Sinto que tudo se passou sem que eu aprendesse direito:
nem as coisas boas, nem as ruins. E agora, falta tão pouco tempo! Não ouso mais
puxar o cordão, pois isto só anteciparia minha morte. Acho que seu presente não
trouxe sorte.
_ Mas que falta de gratidão! Então você queria que
tudo fosse diferente?
_ Talvez, se você tivesse me dado um relógio com um
cordão que eu pudesse puxar, tanto para acelerar como para voltar o tempo.
A mulher sorriu.
_ Está pedindo muito! Você acha que pode viver a vida mais de uma vez? Bem, ainda posso conceder-lhe um último pedido, seu mal-agradecido.
_ Pode? – perguntou ele.
_ Escolha o que você quiser – disse ela.
Zezão pensou bastante e disse:
_ Eu gostaria de tornar a viver minha vida, como se
fosse a primeira vez, mas sem seu relógio mágico. Assim poderei experimentar as
coisas ruins da mesma forma que as boas sem encurtar sua duração, e pelo menos
minha vida não passará tão rápido e nem perderá o sentido como um devaneio.
_ Assim seja. Devolva-me o relógio – disse a mulher.
Ela esticou a mão e lhe tirou o presente.
Em seguida, ele se recostou, exausto e fechou os
olhos.
Quando acordou, estava na cama. Sua mãe o chamava
para a escola.
Ele a segurou pelo pescoço e a beijou ternamente,
durante um longo tempo.
Aulus Di Toam
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