Mas
onde ele se esconde?
Dentro
das pessoas. De algumas delas. Fico me perguntando como é que vai ser daqui a
um tempo, caso não se mantenha ou já parco vínculo familiar com a literatura,
caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se
comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração
para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e
filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma
ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá
optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário
condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os
minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de
aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria,
que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a
vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.
Sei que
é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que
deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria
intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade
pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato
é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na
transmissão de elegância.
Pensar
é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância
deveria estar ao alcance de qualquer pessoa.
Outro
dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do
país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões
ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer
convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua
opinião de forma cordial.
Um sujeito
educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suiça,
pensei.
Isso me
fez lembrar de um livro excelente chamado "A elegância do ouriço de Muriel
Barbery", que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de
Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era
mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que
servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição,
oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado
de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos - cada um no seu
papel.
A
personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de
não humilhar seus "superiores", que nada mais eram do que medíocres
com dinheiro.
A
economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de
medíocres com dinheiro.
Martha
Medeiros
30 de
maio de 2010
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