sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Trem...


Não sei que filósofo foi que disse que a palavra queijo só tem sentido para alguém que já tenha comido um queijo. É óbvio. Se a pessoa nunca viu, cheirou e comeu um queijo ela não terá ideia alguma do que é um queijo, ao ler ou ouvir a palavra queijo.
Pois eu, esquecido dessa lição elementar de filosofia, tentei ensinar queijo a quem nunca havia experimentado um queijo... Tentei levar minhas netas a viajar pelo mundo da minha infância, mundo no qual elas nunca estiveram.
Falei sobre casas de pau a pique, fogões de lenha, minas d'água, monjolos, fornos de barro, galinhas botando ovo, "casinhas" e penicos, cheiros de capim-gordura e bosta de vaca, assombrações...
Queria levá-las a passear comigo pelo mundo da minha infância na roça. Queria que fossem minhas companheiras.
Convidei-as então, a entrar na minha máquina do tempo. Minha máquina do tempo é feita com memória e palavras. Entrando na memória, eu voo para o passado. Escrevendo as minhas memórias, eu levo outros a voar comigo. Foi isso que Proust fez ao escrever Em busca do tempo perdido. Eu estava tentando voltar ao tempo perdido, para que ele não se perdesse.
Acontece que acreditei demais no poder das palavras.
Como poderiam as minhas netas experimentar o meu mundo se elas nunca haviam estado nele?

Em "Se eu pudesse viver minha vida novamente", pág.72

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