_ Você está vendo o que tenho no pescoço?
_ Uma gravata.
_ Muito bem. Sua resposta é lógica, coerente com uma
pessoa absolutamente normal: uma gravata!
“Um louco, porém, diria que eu tenho no pescoço um
pano colorido, ridículo, inútil, amarrado de uma maneira complicada, que
termina dificultando os movimentos da cabeça e exigindo um esforço maior para
que o ar possa entrar nos pulmões. Se eu me distrair quando estiver perto de um
ventilador, posso morrer estrangulado por este pano.”
“Se um louco me perguntar para que serve uma gravata,
eu terei que responder: para absolutamente nada. Nem mesmo para enfeitar,
porque hoje em dia ela tornou-se símbolo de escravidão, poder, distanciamento.
A única utilidade da gravata consiste em chegar em casa e retirá-la, dando a
sensação de que estamos livres de alguma coisa que nem sabemos o que é.”
“Mas a sensação de alivio justifica a existência da
gravata? Não. Mesmo assim, se eu perguntar a um louco e a uma pessoa normal o
que é isso, será considerado são aquele que responder: uma gravata. Não importa
quem está certo, importa quem tem razão.”
Em "Veronika decide morrer", p.84-85
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