Chegamos à
cidade de Conservatória já passava das 14 horas. O sol estava estorricando.
Chegamos à
pousada – mais pra frente falo dela - descarregamos as malas e fomos à cidade
almoçar. Estava com fome, com vontade de comer um bife acebolado com batatas
fritas. E comi. Escolhemos o restaurante Tom Maior, indicação da pousada. O
ambiente era bastante arejado. Sentei-me na janela. Logo atrás estava a porta.
Excelente porque de vez em quando soprava um ventinho. Depois demos uma
voltinha na rua e voltamos para a pousada. Resolvemos dormir um pouquinho, uma
vez que a noite a gente ia ver a serenata que começava às 21 horas e se
estendia até a madrugada. Era preciso estar descansados.rss
Acordamos e
fomos conhecer a pousada. Queria ver de onde vinha o barulho de musica “putz
putz” que tocou incessantemente a tarde toda. O funcionário da pousada foi
mostrando os ambientes. Um a um. Churrasqueira, sala de TV, piscina, salão do
café, e então finalmente chegamos onde tinha o tal barulho, ou melhor; música.
Era de uma academia - que ficava embaixo dos quartos. Já fui logo perguntando
se ela ia abrir no dia seguinte. E o rapaz falou que não. Graças a Deus!
A pousada é bem
grande. Além dos ambientes que mencionei acima, ela possui 23 quartos. Na porta de
cada um, uma plaquinha com o nome de uma música e o intérprete.
Nosso quarto era o Lamentos/Pixinguinha e ficava na ala superior denominada “Vila Bossa Nova”. Vi que tinha o quarto
Abre-alas/Chiquinha Gonzaga e outros. Não
sei se comentei em algum lugar que Conservatória é a cidade da Serenata – quase
tudo nela tem algo a ver com música – por isso a pousada possui espaços separados por
gênero musical e os quartos por nome de músicas. Bom, voltando ao quarto... Nele
tinha uma cama de solteiro, uma de casal, TV, frigobar, um guarda-roupa,
ventilador, ar condicionado, um banheiro e a sacada. A visão que tínhamos da
mesma era um deslumbre. Podíamos ver parte da cidade e as montanhas.
Quando a
noite chegou, fomos para o centro. Conservatória é minúscula. São duas ruas onde ficam
os bares, restaurantes, museu da música, casa do poeta, lojinhas e onde fica a
praça de onde sai o pessoal da serenata.
Enquanto a
serenata não começava ficamos circulando. Demos umas cinco voltas - nas duas
ruas - para decidir o que e onde comer. Resolvemos entrar em um pequeno
estabelecimento, que parecia ter um lanche muito bom. Entramos, o Zé encontrou
um lugar – meio no canto – pegou o folheto e começou a ver o que tinha. Nisso
um senhor – que pelo jeito era o dono/chapeiro/caixa do estabelecimento - foi
logo falando que não tinha mais lanche. Demos risada e saímos. Lembramos da
comerciante em Penedo que não quis fazer o suco de laranja. Falar o quê?rss
Resolvemos então ir comer no mesmo lugar onde almoçamos... Tom Maior. Como estava muito quente,
sentamos do lado de fora. Até porque há alguns metros dali, na calçada
de um outro estabelecimento tinha um pessoal tocando chorinho.
A Selma
(garçonete) trouxe o cardápio e... Esqueceu da gente, literalmente. Tentamos de
tudo quanto era jeito chamar a atenção dela e não adiantou. Então o Zé achou
melhor ir lá dentro fazer o pedido. Ele voltou dando risada. Falou que quando
ela o viu, arregalou os olhos. Lembrou que a gente estava lá fora!rss
Sei que quando
ela veio trazer os refrigerantes, não sabia mais como pedir desculpas. Estava
toda sem graça. E eu digo novamente... Falar o quê?rss
Ficamos ali,
comendo, bebendo, conversando, olhando o vai e vem das pessoas até dar a hora
de ir para a praça.
O pessoal da
serenata chega pontualmente. Eles se reúnem antes - às 21h30min - na Casa de
Cultura que fica ali pertinho. Quando chegam, já estão afinados.
Na sexta tinha somente dois violeiros, mais um pessoal que segue junto a eles cantando. O
senhor Edgard que pelo jeito é líder deles, conta a história de como começou a
serenata. Entre uma canção e outra ele declama poemas. Eles caminham bem
lentamente. Param de vez em quando. Os turistas seguem acompanhando... Na
frente... Dos lados... Atrás. Acompanham cantando, tirando fotos. O que
acontece ali é mágico. Apesar de eu não conhecer a maioria das músicas,
ficava emocionada de ver o envolvimento das pessoas. Eu olhava os rostinhos.
Alguns sorriam. Em outros dava para perceber que estavam inebriados,
nostálgicos com a situação, com as canções. Jamais me esquecerei daquela cena.
A serenata
termina meia noite, e cada um segue seu caminho. O Zé e eu voltamos para a pousada
encantados. Dormir depois disso – mesmo tendo dormido à tarde – não foi nem um
pouco difícil.
No Sábado, ao
acordar ouvimos um som de violão. Lembramos que às 9h, durante o café da manhã
haveria alguém tocando e cantando. Corremos para lá. Conseguimos chegar a tempo
de ouvir umas três músicas.
Após o café
fomos dar mais um passeio pela cidade e almoçar. Como são duas ruas, não tem
muito que fazer. Circulamos por elas, várias vezes.rss
Não foi fácil encontrar um lugar legal para
almoçar. Estava um calor de rachar mamona. Escolhemos um restaurante nos fundos
de uma casa. Era o que parecia mais arejado – por ser aberto. Não gostamos
muito da comida de lá. Pra começar o feijão do carioca não é "carioca". É preto. E feijão preto pra mim, só com carne seca, paio, etc. E pra comer no frio - não naquele calor senegalesco. E pra terminar não tinha gelo. A coca-cola estava gelada, só que no segundo gole já tinha esquentado. Não bastasse tudo isso, veio também - melhor não ter vindo - um angu. Gente o que é aquilo. Ô negocinho ruim. Não tem gosto de
nada. Comemos pensando que o melhor teria sido ir no Tom Maior. A gente comia e o suor escorria. Saímos de lá direto para a pousada. Ficar embaixo do ventilador era o que a gente mais queria. E foi o que fizemos.rss
À noite voltamos
para o centro, para ver a serenata. Dessa vez paramos direto no Tom Maior para
jantar. Pedimos o bife acebolado, com arroz e fritas. Delícia.
A serenata do
Sábado estava mais tumultuada. Em todos os sentidos. Mais violeiros. Mais gente
cantando. Mais gente acompanhando. Teve até discussão porque os carros não
podiam passar.
Nós acompanhamos
do começo ao fim. Cantamos. Tiramos fotos. A emoção é explícita. Sei que eu
sentia um misto de alegria e tristeza. Saber que aquele momento era único. Que
nunca mais viverei, ou presenciarei aquilo. A sensação, o que a gente vivencia
ali, é indescritível. Só indo lá conferir.
No Domingo, logo
após o café da manhã deixamos Conservatória – essa cidade encantada – onde a música
está presente em todos os cantos.
E assim terminou nossa viagem de férias, que foi carinhosamente, cuidadosamente planejada pelo Zé.